Outro dia a vi passar de braços
dados com outro alguém, que como disse Lupicínio Rodrigues “ ... nem um pedaço do seu pode
ser”.
O
pipoqueiro que lhe atendeu quase disse o meu nome sem querer, acostumado que
estava em nos ver abraçados passar, e beijos trocar.Estava com um vestido rodado, com estampas de coloridas flores azuis. Cheguei
perto para vê-la melhor, e por ela ser visto, e pedi um saco de pipocas.
Seu
olhar severo e discreta palidez em seu rosto, denunciavam que não aprovara
minha atitude, mas também revelavam que
eu não era de todo indiferente. Havia
deixado marcas. . .
O frio vento do fim da tarde arrepiou os pequenos pelos doirados, tais
quando sussurrava em seu ouvido, e pequena aragem agitou seus cabelos e um agradável odor de
rosa, exalou como antigamente.
O
seu afastamento, vi através da “turvisão” das lágrimas, que teimavam em aflorar-me
aos olhos...
No
meu peito nada mudou!
Sentimentos
no peito guardados, em cinzas transformados, reascendem ao menor sopro da
paixão, como as cinzas reacendem em brasas, até explodirem em chamas, mostrando
que, bem lá no fundo d’alma continuas
amando...
Fiquei
observando os dois se afastando...Como dói o ciúme. Quem devia
estar abraçando ela era eu!
Foi aí que ela olhou para trás e um sorriso escapou de seus lábios.Ele certamente era apenas mais uma paixão. Mas
seu verdadeiro amor fui eu! E que me desculpem as feministas, não resisti, e escrevi;
RECEITA
DE MULHER
Vá
devagar, passo a passo,
Com muita concentração e
ardor.
Bom mesmo ser um
pouco devasso,
E
ter um peito de aço,
Pra viver um grande
amor.
Cravo
e canela,
Devem ser o sabor e a cor dela.
Melhor
ser um escultor,
Pra viver um grande
amor.
Comece pelos
cabelos.
Pode ser “pinchauim”, liso,
anelado.
Dividido no meio, ou do lado.
E quando acabar ponha uma flor.
Rosa, Margarida,
a que for.
Contanto
que tenha um agradável odor.
A sobrancelha longa,
arqueada,
Deve ter sua
amada.
Os olhos um pouco
tristes.
Mas que façam
pensar;
“O
que diz este olhar”?
O nariz levemente
arrebitado.
E até um pouco
desaforado.
A boca carnuda
parece um coração.
Meu
Deus, que tentação!
O ouvido, se
sussurrado,
Deixa
os pelos arrepiados.
E pondo duas
covinhas ao sorrir,
Acabarás de
esculpir.
O pescoço longo,
em branco marfim,
Inspirando
loucuras sem fim.
Os ombros em curva
suave,
Lembram o pousar de uma ave.
Braços delicados deve ter
essa danada.
Com
mãos macias, mãos de fada!
O seio que caiba na mão.
Mas
cuidado com a prevaricação!
O ventre tentador, sem pejos,
mate sua sede no
“poço dos desejos”.
A “bunda” redonda, empinada se fizer.
Muita
gente vai matar essa mulher.
As coxas colunas de mármore fino.
Feitas por um escultor Divino.
Cozinhe em fogo brando,
Mas tenha cuidado,
Porque você já foi
“fisgado”,
Pois está amando.
Sal e pimenta “à gosto” no
final.
Coma devagar, não vá passar mal.
Deguste
ajoelhado, como quem ora.
Pois esta é a receita
de sua Senhora.
Salvador, 14 de Dezembro de 2012.
Sávio Drummond.
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