quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

MORENA FLOR


Outro dia a vi passar de braços dados com outro alguém, que como disse Lupicínio Rodrigues  “ ... nem um pedaço do seu pode ser”.
O pipoqueiro que lhe atendeu quase disse o meu nome sem querer, acostumado que estava em nos ver abraçados passar, e beijos trocar.Estava com um vestido rodado, com estampas de coloridas flores azuis.                                                        Cheguei perto para vê-la melhor, e por ela ser visto, e pedi um saco de pipocas. 
Seu olhar severo e discreta palidez em seu rosto, denunciavam que não aprovara minha  atitude, mas também revelavam que eu não era de todo indiferente. Havia deixado marcas. . .
O frio vento do fim da tarde arrepiou os pequenos pelos doirados, tais quando sussurrava  em seu  ouvido, e pequena aragem  agitou seus cabelos e um agradável odor de rosa, exalou como antigamente.
O seu afastamento, vi através da “turvisão” das lágrimas, que teimavam em aflorar-me aos olhos...
No meu peito nada mudou!
Sentimentos no peito guardados, em cinzas transformados, reascendem ao menor sopro da paixão, como as cinzas reacendem em brasas, até explodirem em chamas, mostrando que, bem  lá no fundo d’alma continuas amando...
Fiquei observando os dois se afastando...Como dói o ciúme. Quem devia estar abraçando ela era eu!
Foi aí que ela olhou para trás e um sorriso escapou de seus lábios.Ele certamente era apenas mais uma paixão. Mas seu verdadeiro amor fui eu! E que me desculpem as feministas, não resisti, e escrevi;


RECEITA DE MULHER

Vá devagar, passo a passo,
Com muita concentração e ardor.
Bom mesmo ser um pouco devasso,
E ter um peito de aço,
Pra viver um grande amor.
Cravo e canela,
 Devem ser o sabor e a cor dela.
Melhor ser um escultor, 
Pra viver um grande amor.
Comece pelos cabelos.
Pode ser “pinchauim”, liso, anelado.
Dividido no meio, ou do lado.
E quando acabar ponha uma flor.
Rosa, Margarida, a que for.
Contanto que tenha um agradável odor.
A sobrancelha longa, arqueada,
Deve ter sua amada.
Os olhos um pouco tristes.
Mas que façam pensar; 
“O que diz este olhar”?
O nariz levemente arrebitado.
E até um pouco desaforado.
A boca carnuda parece um coração.
Meu Deus, que tentação!
O ouvido, se sussurrado,
Deixa os pelos arrepiados.
E pondo duas covinhas ao sorrir,
Acabarás de esculpir.
O pescoço longo, em branco marfim,
Inspirando loucuras sem fim.
Os ombros em curva suave,
 Lembram o pousar de uma ave.
Braços delicados deve ter essa danada.
Com mãos macias, mãos de fada!
O seio que caiba na mão.
Mas cuidado com a prevaricação!
O ventre tentador, sem pejos,
 mate sua sede no “poço dos desejos”.
A “bunda” redonda, empinada se fizer.
Muita gente vai matar essa mulher.
As coxas colunas de mármore fino.
Feitas por um escultor Divino.
Cozinhe em fogo brando,
Mas tenha cuidado,
Porque você já foi “fisgado”,
Pois está amando.
Sal e pimenta “à gosto” no final.
Coma devagar, não vá passar mal.
Deguste ajoelhado, como quem ora.
Pois esta é a receita de sua Senhora.
                                                                                                           
Salvador, 14 de Dezembro de 2012.
Sávio Drummond.

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