quarta-feira, 25 de setembro de 2013

TRISTE VELHO CHICO

O 1º livro que li, aos 10 anos, chamava-se Cazuza e falava sobre os Gaiolas, embarcações que trafegavam no Rio São Francisco, fazendo a ligação entre Pirapora (MG) a Penedo (AL). 
Essas embarcações traziam na proa (frente) carrancas de seres diabólicos, superstição da população ribeirinha, usada para afastar os maus espíritos.Os viajantes armavam redes no convés para dormirem, pois a viagem durava vários dias.
Às margens do Rio São Francisco, em alto sertão baiano, fica uma das maiores grutas do Brasil, a gruta de Bom Jesus da Lapa, onde em seu interior foi construída uma Catedral. Nela, romeiros realizam a 2ª maior romaria do país (1 a 6 de Agosto), só perdendo para a de Aparecida do Norte (13 a 15 de Agosto), padroeira do país. 
O Rio São Francisco foi descoberto pelo navegador florentino , Américo Vespúcio, em 4 de Outubro de 1501, e batizado com este nome pois era dia da celebração de São Francisco.O rio era chamado de Opará pelos índios da região, que quer dizer Rio Mar. Sua nascente encontra-se a 1.200 metros de altitude na Serra da Canastra, no sul de Minas Gerais e percorre 2.863 Km antes de desaguar no Oceano Atlântico. Possui dois trechos navegáveis. O médio de 1.371 Km, entre Pirapora (MG) a Juazeiro (BA)- Petrolina (PE), e o baixo com208 Km, entre Piranhas (AL)e o Oceano Atlântico. O último município  que atravessa é  Piraçabuçu (AL), onde fica em sua foz, depois de atravessar cinco estados. 
Em 1552, o 1º Donatário da Capitania de Pernambuco Duarte Coelho Pereira, fundou a cidade de Penedo, no atual estado de Alagoas e lá, em 1637, foi construído um Forte devido aos interesses dos franceses, que por lá andavam  desde 1526, dando origem a uma pequena baía em sua foz, chamada de Porto dos Franceses.
Nas proximidades dessa baía  que se deu o naufrágio da nau que levava o 1º Bispo do Brasil, Dom Pero Fernandes Sardinha, de volta a Portugal.  Ao chegar em terra, o Bispo foi morto e devorado pelos índios Caetés.
Havia nas costas brasileiras duas grandes nações indígenas, os Tupís e Gês que chamavam a qualquer grupo que não falava sua língua, de Tapuias.
O nome de Rio da Integração Nacional se deve as Entradas e Bandeiras, que durante os Séculos XVII e XVIII usaram-no como via navegável para expedições.
Por mais de 200 anos, os Bandeirantes causaram grande genocídio das populações indígenas do interior do estado. Muitos marginais  e negros fugidos escondiam-se nas aldeias indígenas de suas margens.
Em 20 de Dezembro de 1695, uma tropa de mercenários, contratada pela Coroa Portuguesa e usineiros da Capitania de Pernambuco, destruiu o último foco de resistência negra, e matou os quilombolas, ligados ao Quilombo de Palmares, que tinha sido destruído pelo bandeirante Domingos Jorge Velho em 6 de Fevereiro de 1649, e ferido seu líder Zumbí, que, então conseguira escapar.
O “velho Chico”, antigo rio da Integração Nacional, não é navegável inteiramente há muitos anos, pois vem sofrendo um processo de assoreamento que acabará por “matá-lo”, principalmente se for “levado a cabo” a transposição do velho Chico, que vem sendo defendida por políticos nordestinos, como solução para acabar com a seca do nordeste. Até D. Pedro II prometeu vender as jóias da coroa e solucionar esse problema.Não vendeu, e o nordeste continua tão seco quanto antes.
Da promessa, sobrou a Ponte D. Pedro II, sobre o Rio Paraguaçu, que liga Cachoeira a São Felix, e que está para desabar, por falta de manutenção.
O que se deve fazer é drenar a “calha” do rio nos pontos necessários, tornando-o novamente navegável, sendo uma importante via de locomoção para a população ribeirinha, trazendo de volta os gaiolas, as carrancas e o turismo da região.
Quanto à seca do Nordeste, a solução é furar poços artesianos, pois, se não me engano, o maior lençol de água potável do Brasil, chama-se Aquífero Guarani, que se encontra a 600 metros de profundidade, abrangendo o norte da Bahia, sul do Ceará e 1/3 oeste de todos os estados nordestinos.

Salvador, 28 de Novembro de 2012
Sávio Drummond.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

PROMESSA É DÍVIDA

Tive um conhecido, belga de nascimento, baiano de coração, que não sei por que cargas d’água, deu com os costados em Salvador, e apaixonou-se por uma autêntica crioula baiana e, com ela se casou.
Conheceu-a quando certo dia pediu um acarajé. Mãe Conceição perguntou se queria com ou sem pimenta. Querendo ser engraçadinho, respondeu:
- Bote como se fosse no seu acarajé...
Se “lenhou”, mãe Conceição adorava pimenta, e o Gringo comeu o acarajé mais ardido de sua vida.
Mãe Conceição, sua esposa, tinha seu tabuleiro no largo do Rio Vermelho, e seu Terreiro no Curuzú.
O Gringo era seu ajudante na vendagem, mas no terreiro só foi uma vez.
Mãe Conceição o pegou transando com uma Filha de Santo. 
Expulsou a danada debaixo de “porrada”, e ameaçou cortar “os documentos” do gringo, enquanto dormisse se ele voltasse a “por os pés” no Terreiro.
Certa feita o Gringo chegou a um bar acompanhado de duas garotas de programa:
- Uma Coca-Cola!
O “barman” ao ver três adultos, perguntou:
- Família?
O gringo, que ainda se enrolava com a língua:
- Non, tudo puta! Tudo puta!

Um vizinho do Gringo instalou um ar condicionado, e o gringo não conseguia dormir, devido ao barulho que fazia. Na 1º reunião de condomínio, expôs suas queixas, e descobriu que muitos outros também estavam sendo incomodados.
O ar condicionado foi tirado, ou trocado, e o barulho acabou. Logo, queixa-se o Gringo a um dos incomodados:
-Agora não consigo dormir, pois já tinha me acostumado com o barulho. Estou sentindo falta do barulho!

O Gringo estava perfeitamente integrado ao modo de ser, crenças e culinária baianas. No largo da Mariquita, no Rio Vermelho onde morava, rara era a noite que não parava no restaurante e padaria do Pepe para comer caruru, sarapatel, moqueca de peixe, sempre acompanhadas por várias garrafas de cerveja. O gringo bebia pra caramba!
Certa feita o Gringo estava sem dinheiro e prometeu ao Senhor do Bonfim, Santo de maior devoção de Salvador, que daria cinco voltas de joelhos em torno da colina sagrada se ganhasse algum. Inspirado nas cunhadas, segundo ele, jogou na cobra, e ganhou pequena fortuna.
Ao chegar ao sopé da colina viu que a tarefa não era fácil. O que fazer? Agora estava em débito com o Santo. Dever ao Santo é pior que dever ao mais miserável dos agiotas.Da mesma forma que ele deu, ele tira.
Resolveu o problema: Chamou um Táxi, ajoelhou-se no banco de trás e mandou o motorista dar as cinco voltas prometidas, enquanto rezava contritamente, agradecendo.  Enganou o Santo e cumpriu a promessa.
Promessa é dívida!                     



                                                                                                                    Salvador, 26 de Dezembro de 2011.
Sávio Drummond.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O SUICIDA


Conheci o João no tempo do Colégio Secundário. Após o vestibular perdemos contato e tornou-se um daqueles personagens que por encontrarmos ocasionalmente, passam a ser testemunha viva da inexorabilidade do tempo.

Encontrá-lo era como olhar-me num espelho fantástico, dos que não distorcem a imagem segundo nossas vaidades ou desejos. João simplesmente envelhecia como devem fazer todos os mortais, obrigando-me a olhar para mim mesmo, pois tínhamos a mesma idade.

Certa feita, numa das avenidas centrais da cidade, preso em um engarrafamento, não imaginava que voltaria a encontrá-lo em situação tão inesperada. À minha frente uma multidão que impedia o trânsito normal dos carros fazia gestos para o alto e gritava coisas que inicialmente não entendi.

Viaturas da polícia, policiais que procuravam fazer o escoamento do trânsito, bombeiros, e no alto de um edifício um homem perigosamente equilibrava-se numa saliência externa do prédio, tendo enorme vazio à sua frente. 
As pessoas que passavam juntavam-se à multidão e como um grande coral ensaiado, gritavam:
- Pula, pula, pula!

Alguns estudantes formavam um grupo à parte, desafiando:- Deixa de presepada, você não tem coragem, vai ver que é corno...

Lá em cima o homem, sua solidão e seus motivos que ninguém sabia.

De repente, um jato amarelo e brilhante começou a cair sobre a turba, inicialmente varrendo de uma extremidade a outra o grupo de curiosos que começou a dispersar procurando abrigo. Por vezes acertava este ou aquele espectador, como se um infalível artilheiro o dirigisse. Por outras perseguia uma assustada vítima até a calçada oposta.
O homem urinava. Urinava de uma forma absurda, como se todos os fluídos do seu corpo, naquele momento, se esvaíssem por sua uretra revoltada. E ele gargalhava, divertindo-se com a resposta que dava a multidão que há pouco o incitava à morte.
Quando acabou de urinar, calmamente entrou pela janela mais próxima e rapidamente foi seguro por fortes braços para desaparecer pelo vão adentro.
Alguns minutos e reapareceu carregado pelos quatro membros por policiais do resgate, que utilizando-o como um aríete, abria caminho em meio ao agrupamento que agora em vaias , retornava procurando ver de perto o suicida mijão.
Era o João, e sorria como uma criança traquina pega em flagrante.
Em nada lembrava um homem que queria morrer. Estava decididamente feliz.

Algum tempo depois o encontrei no Bar do Reagge no Pelô, ostentando enorme cabeleira rasta. Parecia mais moço e completamente descontraído dançava o som mágico de Marley com amigos da tribo. Conversamos um pouco e sem saber que estivera presente naquela tarde e a tudo assistira, contou-me que resolvera desligar o “automático de sua vida” e vive-la conforme a visão que certa tarde tivera.
Tornara-se artesão da madeira, cobre e prata e junto com outros semelhantes dividia um casarão no centro histórico da cidade, e acima de tudo que estava em paz.
Saí do bar certo que o João renascera. Como Sidarta Gautama debaixo da arvore Bodhí, renasceu Buda, João no alto do edifício, entre tormentos, vaias e mijo, tivera seu momento de iluminação e renascera rasta leve e livre.
Aquele sorriso que tinha visto em seu rosto e que incorporara no seu semblante, não deixava dúvida.

                                                                         Sávio Drummond.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Sem Destino

Há muitos anos, durante umas férias, saí com um colega com mochila nas costas, pedindo carona. O objetivo era irmos onde o destino nos levasse e o dinheiro desse.
Almoçávamos em restaurantes de “beira de estrada”, onde conhecíamos muitos caminhoneiros, e após mostrarmos os documentos, conseguíamos carona com facilidade.
Naquele tempo a violência não era tão grande, e o fato de sermos universitários, deve ter ajudado muito.
Quis a sorte que fossemos levado para o sul. Graças a Deus, pois era verão e o calor estava “de matar”. 
Os restaurantes de “beira de estradas” são excelentes. Tirando os “morotós “que crescem no molho de tomate, e as pernas de baratas, ocasionalmente encontradas no P.F.( Prato Feito), o resto é maravilhoso.  São tão gostosos quanto o tamanho de sua fome. Nesses restaurantes é muito comum o ovo cozido colorido. Anilinas de cores variadas são colocadas na água em que se ferve o ovo, e o “danado” quando cozido fica com a cor do pigmento. Ovos vermelhos, amarelos, azuis, uma delicia!  Só não aconselho o ovo verde, nem o roxo, pois parece que estão em decomposição, e nem o pastel de carne, apelidado de “Jesus ta Chamando”. Este, seguramente está, e o pirirí é garantido! Quantas vezes dormimos, no saco de dormir, olhando as estrelas.
Aos 14 anos, meu pai me deu um Telescópio, e por não ter janelas de vizinhas que morassem por perto, onde ele pudesse “pousar”, acabei apontando-o para as estrelas. E assim acabei conhecendo um pouco sobre astronomia.
O sono “me pegava” vendo o Cinturão de Órion (As três Marias), a nebulosa de Órion, restos de uma estrela que explodiu (Super-Nova), as Plêiades (Cacho) na constelação de Touro, Siriús, a estrela mais brilhante do firmamento, Alfa Centauro a estrela mais perto de nós, depois do Sol.
Ocasionalmente uma “estrela cadente” riscava o céu.
A crendice popular diz que se deve fazer um pedido toda vez que você ver uma, e que não se deve apontar para as estrelas, pois nasce verruga na ponta do dedo ”indiscreto”!
Certa feita, qual o filósofo alemão Franz Kafka, que escreveu A Metamorfose, em que um indivíduo num sonho se vê transformado em asquerosa barata, tive um sonho. De carona, chegava a uma cidadezinha, que pelo sotaque dos seus habitantes era no Rio Grande do Sul. Chamava-se São José e seus habitantes eram imensamente felizes e sorridentes. Na cidade vizinha, São João, ao contrário, todos eram muito tristes e “carrancudos”.Em São José as flores cresciam em qualquer lugar, e tudo era florido e verdejante.Em São João chovia todo dia e até raios caiam. No verão, o calor e a seca meteriam inveja a qualquer cidade nordestina do alto sertão.Ou era enchente ou a seca não deixava que nascesse uma flor sequer, ou matava as que nasceram no temporal passado.
Essa diferença devia-se ao ânimo de seus habitantes.Em São José todos eram otimistas e a alegria “estava no ar”.
Em são João todos eram pessimistas. Só viam os defeitos e a “feiúra” das coisas e das pessoas. Resultado; Os habitantes de São José viviam quase o dobro dos habitantes de São João.
Conversei com um psiquiatra amigo meu, contei sobre o sonho, e ele resolveu fazer um teste, sobre a influência do ânimo das pessoas.
Dr. Ribeirinho, aproveitando as férias de um colega que atendia em consultório defronte ao seu, pegou três plantas e colocou no seu consultório, e nele passou a atender pacientes em Mania.
Mania é a fase da antiga psicose Maníaco Depressiva, hoje chamado Distúrbio Bipolar, em que o doente apresenta-se otimista, fala rápido, quase não dorme e come. Nessa fase é comum o paciente perder peso. Na fase de Depressão, o doente dorme muito, quase não sai da cama, chora fácil, busca compensação na comida e aumenta de peso.
No seu consultório, onde atendia os doentes em mania pegou três mudas de planta, todas plantadas na mesma época, passou a irrigá-las com a mesma quantidade de água e colocar ao Sol durante o mesmo tempo.
No consultório do colega, passou a atender apenas aos pacientes em Depressão.
Nele colocou também três plantas que recebiam água e luz, igual às plantas do “consultório da Mania”
Assegurava-se assim, Dr. Ribeirinho, que a única variável a influenciar no viço das plantas era o ânimo dos doentes.Fim das férias do colega e as diferenças eram “gritantes”. As plantas colocadas no “consultório da Mania” estavam enormes. Coloridas, irradiavam agradável perfume.
As plantas do “consultório da Depressão” murcharam, algumas secaram e morreram. Por isso, seja otimista. A sua atitude mental, pode influenciar profundamente a sua vida. Seja otimista e viva mais!                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                         
                                                                                                   Salvador, 21 de Fevereiro de 2012.
 Sávio Drummond.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

OXALÁ

O santo de maior devoção dos baianos é Senhor do Bonfim, Oxalá no Sincretismo. 
Fui médico em um posto de saúde na Baixa do Bonfim, e de lá se via a colina sagrada e a Igreja no alto. Às sextas-feiras, pelo menos 80% dos pacientes vestiam-se de branco. Sexta-feira é o dia de branco,  a cor de Oxalá.
Oxalá é o maior dos Orixás (Ori = Cabeça + Xá = Santo ). Dizem que na Bahia, existem dezesseis Oxalás, sendo que os mais conhecidos são Oxalufã, o Oxalá velho e Oxoguiã, o oxalá moço. Seus adeptos vestem-se de branco e usam colares com contas de vidro branco. Oxalá é o único Orixá branco (sarará), das divindades africanas.
O Capitão de Mar e Guerra o português Theodózio Rodrigues de Farias, durante uma tempestade, prometeu que se sobrevivesse, traria de Portugal uma imagem do santo de sua devoção. 
Em 18 de Abril de 1745, uma réplica de Nosso Senhor do Bonfim existente em  Setúbal,, terra do capitão, foi trazida para o Brasil e colocada na Igreja de Nossa Senhora da Penha. Em 1754 a imagem foi transferida para a Igreja construída no alto da colina.
A lavagem da Igreja começou a ser feita em 1773, quando a Irmandade dos Devotos Leigos, obrigou os escravos a lavarem seu interior, com a permissão do pároco, no 2 º Domingo de Janeiro. Algumas baianas de candomblé começaram a “dar Santo” dentro da Igreja, tendo sido então proibida a lavagem do seu interior. As baianas passaram então a lavar as escadarias e o adro do templo, que passou a ficar trancado neste dia, com água e perfume, chamada de Água de Cheiro.
A Medida do Bonfim trata-se de uma fita, com duas marcações, geralmente estrelas, que corresponde ao tamanho da imagem, daí chamar-se Medida.
Ao contrário do que se pensa Senhor do Bonfim, não é o padroeiro dos baianos. O padroeiro é São Francisco Xavier, por ter livrado os baianos de uma epidemia de Febre Amarela em Janeiro de 1686. 
A procissão começa na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, construída no local da 1ª Igreja do Brasil, feita por Caramuru, entre 1509 a 1528, para a Índia Paraguaçu, sua mulher, convertida ao catolicismo. Era feita de sopapo e telhado de piaçaba, chamada de a Sé de Palha.
Ao longo do percurso de 8 km, barracas vendem cerveja, cachaça, churrasco, tira-gosto de toda espécie. Jegues enfeitados puxando carroças e mais recentemente com cartazes criticando o governo ou satirizando os políticos em geral, e muito samba de roda, completam o lado profano da festa, sempre aproveitado como “vitrine “ pelos políticos, acompanhados de assessores e “puxa-sacos”. Trabalhei também, em uma Clínica em que um dos donos era de Candomblé.A Clínica ia muito mal, com dívidas enormes, e não saía do “vermelho”.
Um Pai de Santo, chamado Zé do Mocotó, foi levado para fazer um “descarrego”. 
Em pleno plantão tive a atenção despertada por exclamações; - ”Rei dos astros valei-nos! Rei dos Astros proteja esta casa! Rei dos Astros abre os caminhos! Era Zé do Mocotó, sarará como Oxalá, sacerdote do Orixá com uma ajudante, ambos vestidos à caráter, de branco, com batas de pano da costa e turbantes brancos. Enquanto  Zé do Mocotó soltava baforadas de um enorme charuto, a baiana arrancava penas de uma galinha, percorrendo as enfermarias, com os doentes de olhos arregalados!
Senhor do Bonfim ou Oxalá é Santo milagroso.
Na Igreja do Bonfim, existe uma sala, repleta de cabeças, braços, pernas, pés, mãos, feitas em cera, que correspondem a partes do corpo que tinham doenças e foram curadas, após promessas ao santo, além de muletas, fotos de doentes em quadros, com nome e a descrição do milagre ocorrido e agradecimentos das graças alcançadas. Tem até um enorme alfinete, que coloquei na boca e ao apertar os dentes, tomou a forma de Bumerang e  acabei engolindo, quando assistia a uma partida do Bahia.

Essê - ê - babá, Oxalá! 


       Salvador, 14 de Janeiro de 2012.
  Sávio Drummond.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

O INÍQUO

Oitenta anos tinha Moisés quando subiu ao Sinai pela segunda vez para o reencontro com Deus. 
Após sua primeira ida ao Sinai, quando por lá demorou 40 dias, o povo reunido a sua espera, julgando-o morto, derreteu as jóias e fizeram um boi de ouro, e passando a adorá-lo, assim como faziam ao Deus Ápis, no Egito.
Deus após a “Farra do Boi de Ouro” resolveu acrescentar mais cinco aos dez, tradicionalmente conhecidos.
Alquebrado pelos anos, e pelo jejum, (assim como na primeira ida, por lá permaneceu sem comer) na descida do íngreme caminho, escorrega, e uma das três pedras espatifa-se. Sim eram três as tábuas da lei, com cinco mandamentos em cada, e não duas como conta a História oficial, pois cinco mandamentos foram acrescentados aos originais, diante da mais espetacular esbórnia que aqueles idos tempos conheceram.
Árduo foi o regresso do ancião, equilibrando-se com uma pedra em cada mão, e a terceira em dezenas de pedaços cuidadosamente recolhidos na túnica enrolada à guisa de mochila.
Colocada ordem na casa, procura Moisés por Leví, individuo conhecido  por todos por sua habilidade em esculpir as pedras e que atendia também pelo apelido de “O Iníquo” graças aos seus pendores pelo vinho e mulheres. Enfim, artesão do cinzel e dos vícios, que fazia por justa e merecida alcunha.
Foram encontrá-lo dias após, bem para o norte, lá pelas bandas do Oasis de Palmira, na tenda e nos braços morenos de bela Madianita, de grandes olhos cor de azeitona e grosso aro de ouro fincado no nariz.
Com ela havia se refugiado assim que a matança dos vinte e três mil começara a mando de Moisés, para castigar os que haviam participado da “Farra do Boi de Ouro”.
Sob protesto e jugo de três robustos mensageiros, Leví é levado ao patriarca que o esperava a frente de sua tenda de peles negras de cabra, com sua costumeira cara de poucos amigos e pesada sacola de pele de carneiro."Sujeito de mal com a vida, pensa entre os vapores do álcool o Iníquo. É o que dá falar tanto com Deus. Acaba por copiar-se-lhe os trejeitos..."
Frente ao líder tenta aprumar-se, mas seu estado é deplorável. De cara amarrotada, olhos remelentos, cabelos desgrenhados, lábios borrados de carmim onde ainda ardiam os beijos pagãos, a túnica imunda, exibindo manchas de diversas cores e procedências, e exalando uma mistura de repugnantes odores, onde sobressaíam o álcool das fermentadas e legítimas uvas de Sharon, o Aloé com seu cheiro de sepulcro e um esmagador “bodum” de suor que aos outros engolia...
Leví oscila em torno de um eixo imaginário, enquanto o vento fresco do deserto, àquela altura do ano, lembra-lhe o roçar delicado das mãos madianitas a que se entregara nos últimos dias. Na verdade, aguardara a chegada dos vingadores com uma certeza que nem todo o vinho do mundo afogaria, pois desde que a matança dos infiéis da apostasia do bezerro de ouro começara, sabia que sua hora chegaria, já que inclemente era o braço do Deus de Moisés.
E não adiantaria argumentar que entrara na farra por ceder aos apelos de sua natureza, e que não poderia crer ou amar um Deus incapaz de relevar suas fraquezas, de aceitá-lo como um simples homem amante da alegria, das músicas, do vinho e acima de tudo das mulheres. Ah... as mulheres. Nelas sim esse Deus tão raivoso mostrara sua natureza Divina. Talvez num dia inspirado pelo vinho de Sharon que o fizera esquecer-se das suas obrigações de Deus, e que não entendia porque o obrigava a ser tão sanguinário quanto Astarte, Moloc ou qualquer um dos muitos que conheceu no Egito. Melhor acabar tudo ali mesmo...
- Leví. E a voz de Moisés soou estranhamente amiga, fazendo-o abrir os olhos para certificar-se que era o patriarca e não os “espíritos do vinho” que lhes falavam aos ouvidos de dentro para fora.
- Leví, mandei buscar-te por que preciso de sua habilidade no trato com as pedras. Dou-te importante missão em troca de sua vida miserável. 
Nesta sacola estão os cinco mandamentos que o Senhor acrescentou em minha segunda subida ao Sinai. Não me foi dado tempo de lê-los tal a pressa em retornar, diante dos fatos acontecidos na minha ausência anterior. Por azar ou castigo, caiu-se-me a pedra e com ela espatifou-se o conteúdo. Recomponha a sua forma original e restitua-me o que nela está escrito, para que eu possa fazer cumprir-se a vontade do Senhor, e darei por esquecidas todas as suas iniquidades, tornando-te agradável ante aos olhos de Deus.
Um compenetrado Leví retira-se da presença do patriarca carregando a sacola com os fragmentos da pedra sagrada, onde o Senhor de próprio punho escrevera, e por um bom par de dias não “deu as caras” pelo acampamento, enfurnado em seu “cafifo” a dedicar-se a mais importante das encomendas que recebera em toda sua iníqua vida.
Recomposta a pedra, profunda tristeza toma conta de Leví. Dessa vez o Senhor “radicalizara geral”. Que graça teria a vida a partir daquele momento? Qualquer deslize e a morte era certa. Mas sua vida era feita de deslizes...
Cumprida a tarefa, comparece Leví à tenda de Moisés. Impecável, em colorida túnica nova, barbeado e recendendo exageradamente a perfumes raros, como é comum aos desacostumados ao uso.
Moisés sorridente, de longas barbas e cabelos brancos, lembrava Papai Noel e não o austero e carrancudo Homem de Deus que sempre fora.
Recebe do iníquo a pedra trabalhada, e numa primeira e geral inspeção aprova-a em largo sorriso de dentes surpreendentemente fortes e bonitos para a idade, ostentados de orelha a orelha. À medida que “corre” os olhos pelos parágrafos, sua expressão começa a mudar inquietando Leví. Aos poucos, olhos na pedra, olhos no Leví, muda de bonachão a colérico, enquanto o atormentado artesão olha para os lados, disfarçando uma desatenção, quando na verdade estuda o caminho mais curto para uma possível fuga que adivinha iminente.
Olhos arregalados, suando por todos os poros, com lábios trêmulos, rosto rubro, prestes a explodir em cólera sanguinária, constata o Patriarca toda a perícia e safadeza do Iníquo.Lá estavam gravados em baixo relevo, com a caligrafia irretocável de Deus, os cinco parágrafos tão ansiosamente esperados, mas seguramente não os originais, tamanha a permissividade do texto. 
E ainda por cima tivera o “topete” de assinar J H V H, o nome impronunciável de Deus!
A multidão que aguardava o desenrolar deste encontro, quando finalmente Leví, o Iníquo, tornar-se-ia um discípulo do Senhor, viram-no irromper porta afora, em desabalada correria, que provocaria inveja ao mais rápido atleta grego, de túnica arregaçada acima dos joelhos, para assim correr melhor, seguido de perto, em vôo rasante, por brilhante basalto negro, que por pouco não lhe acerta a nuca, deitando-lhe os miolos ao sol, não fosse a ginga rápida com que o salafrário desviou-se da rota de colisão, e além dos limites do acampamento, tomar o rumo do norte, onde braços morenos e carinhosos certamente o aguardavam.
Não se sabe por que Moisés desistiu de castigar o Iníquo, contentando-se em considerá-lo excluído do Povo de Deus, nem se retornou ao Sinai. Sabe-se apenas dos 10 conhecidos mandamentos.
Poupou-nos assim Leví, o Iníquo, quer por inspiração de gênio com visão histórica, ou simples espertalhão agindo em causa própria, de aturarmos mais cinco proibições, que se não nos tornou mais fácil o caminho ao Paraíso, seguramente facilitou-nos a vida, preservando-nos algumas alegrias.

Salvador, Fevereiro de 2011
Sávio Drumond


quarta-feira, 17 de julho de 2013

UTI

Em 1854, durante a Guerra da Crimeia, na qual o Reino Unido, França e Turquia lutaram contra a Rússia, a Enfermeira Florence Nightingale, objetivando dar assistência aos feridos, criou a 1ª sala destinada à esta finalidade.
Com a 1ª (1914-1918), e a 2ª (1936-1945) Guerras Mundiais, as salas de suporte à vida, equiparam-se com a descoberta de novas medicações e novos equipamentos.
Incrível, mas a tecnologia médica evolui muito mais em períodos de conflitos.
A ultra-sonografia, só foi entregue à Comunidade Científica, 10 anos após sua descoberta, pois era “Segredo Militar”, utilizada na identificação e comunicação dos satélites espaciais, pois a URSS não “podia saber". Com Monitores Cardíacos, que vigiam a frequência e o ritmo cardíaco, disparando alarmes sonoros, conforme alterações da frequência e ritmo do coração, Oxímetros Digitais que informam “24 horas por dia”, a quantidade de O2, no sangue do paciente, sondas que medem a pressão dentro dos vasos e coração, aparelhos que fazem a medida de O2, CO2 e eletrólitos, permitindo suas correções, medida da Pressão Venosa Central (P.V.C.), indispensável para o tratamento da Síndrome do Choque, muitos doentes conseguiram “enganar” a morte e viver por mais tempo.
Muitos corações, devido ao uso de Marcas-Passos, continuam a bater em tórax de indivíduos mortos.  Substâncias que, se injetadas em tempo hábil em Coronárias no Infarto Agudo do Miocárdio, Carótidas nos Acidentes Vasculares Cerebrais (A.V.Cs. / Derrames), Artérias Pulmonares nos Tromboembolismos Pulmonares, Artérias Mesentéricas em Infartos Intestinais,desfazem coágulos, e muitos indivíduos seguramente sobrevivem, em situações limites, que antigamente os matariam. 
A assistência intensiva a pacientes nestas salas internados, deu origem a novas especializações como o Médico Intensivista, a Enfermeira Intensivista e o Fisioterapeuta  Geral e Respiratório, para evitar lesões de Traqueia e em doentes entubados e Escaras de Decúbito e Pneumonia de Decúbito naqueles acamados por muito tempo.Que ironia, e ainda se morre de Apendicite, Diarreia, Desidratação, Tuberculose, de parto e todas as doenças relacionadas à miséria.
Até a Bíblica Lepra, está voltando com “toda força”, na Amazônia.
Na U.T.I. do H.G.V. (Hospital Getúlio Vargas), o Pronto Socorro, quando estudante, vivi situações que gostaria de esquecer.
Um professor nosso, Anestesiologista, era chefe da U.T.I.
 Embora nunca tivesse sido interno desta Unidade, costumava visitá-la com frequência, não só para aprender alguma coisa, como acompanhando os doentes que atendia na Emergência, e a ela os encaminhava.
Certa feita, levei um doente em Coma, vítima de acidente automobilístico.
Após minucioso exame, o Mestre reconheceu que o doente precisava de U.T.I.  e assistência respiratória, pois o tínhamos entubado na sala de Emergência, e a ventilação pulmonar, mantida manualmente.
Após perguntar ao residente (estava atendendo juntamente conosco na sala de Emergência), quem não “tinha mais jeito”, e que estava ocupando um respirador,examinou o prontuário e minuciosamente o doente, e quando os reflexos mais profundos, como o Corneal  já não mais existiam, fazia aquilo que todos nós queríamos fazer, mas que não tínhamos coragem: Desligava o Respirador!
Depois, após breve silêncio, quando parecia que rezava, mandava subir mais dois, pois iria desligar mais dois outros aparelhos, pois dois moribundos, estavam ocupando respiradores que poderiam salvar outros infelizes que tinham chance de viver.
Graças a maus políticos e más políticas, o Mestre se investia de Deus, decidindo quem viveria e morreria.
Será que a situação mudou?                                                                                                                                   Salvador, 01 de Maio de 2012
                                                                                                                                             Sávio Drummond.

Nota: O conto escrito em 2012, refere a situações ocorridas na década de 1970.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

PEROBA

Apelido carinhoso com que um colega médico, que trabalhou no Serviço Médico de Candeias referia-se a Petrobrás, empresa em que trabalhei por muitos anos, como Médico do Trabalho.
Influenciado pela descoberta de Gás e Petróleo na vizinha Bolívia, o Advogado e escritor paulista, principalmente de literatura infantil, Monteiro Lobato (1882-1948), lança em 1936 a campanha "O Petróleo é Nosso".
Nela acusa o então Presidente- Ditador, Getúlio Vargas (1882-1954) de “Não perfurar e não deixar perfurar”, baseado em pareceres de geólogos americanos, de que no Brasil não havia petróleo. Esta oposição lhe “valeu” 6 meses de cadeia.
Em 3 de Outubro  de 1953, enfim,  o Presidente gaúcho Getúlio Dorneles Vargas (1882-1954), funda a PETROBRÁS ( Empresa Brasileira de Petróleo S.A.), empresa de economia mista, cujo maior acionista é o governo, inaugurando também o Monopólio de Petróleo.
Nestes 59 anos a Petrobrás evoluiu muito. Dos iniciais 1,9% do petróleo consumido, até 90% em 2003 e por fim a auto- suficiência com 1.800.000 barris/dia e 6.000.000 m³/dia de gás natural, no governo Lula.
Em 1961 entra em operação a 1ª Plataforma Marítima Continental (área de até 200 metros de profundidade que orla o continente.
Após ela as profundidades abissais), e a auto-suficiência de derivados é alcançada, graças à inauguração da Refinaria Duque de Caxias, no RJ.
Em 1967 é criada a Petroquisa S.A. (Petrobrás Química S.A.), subsidiária da Petrobrás que fabrica plásticos duros, flexíveis, espuma e fertilizantes.
Em 1968 é criado o CENPES (Centro de Pesquisas e Desenvolvimento), maior centro de pesquisas da América Latina, e que gera o maior número de patentes do mundo! Em 1969 foi feita a 1ª descoberta de petróleo no mar, no campo de Guaricema, há 80 metros de profundidade, em Sergipe.
Em 1997 acabou o Monopólio do Petróleo, mas as grandes empresas estrangeiras, não passaram a explorar e produzir em grande volume, tal a atuação da empresa nacional. Gigantes como a Esso, Shell e Texaco, continuam trabalhando com combustível
importado, ou comprado da Petrobrás, em sua maior parte.
A Petrobrás é líder mundial em exploração em águas profundas, recorde batido no Campo do Roncador, na bacia de Campos, com lâmina d’água de 1886 metros.As maiores jazidas marítimas estão na Bacia de Campos e as terrestres no município de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Com o desenvolvimento do Pré-Sal , seremos o  4º produtor mundial de petróleo até 2030.
Hoje a Petrobrás tem 100 Plataformas de Produção, 16 Refinarias e uma frota de 5 navios na subsidiária Transpetro. Outros 49 serão adicionados a frota em breve. 
Com a descoberta de petróleo em Lobato (atual subúrbio ferroviário), a recém criada Petrobrás, “saía “com caminhões recrutando trabalhadores.Times inteiros de baba (futebol de várzea) foram fichados, muitos só de calção e chuteiras.
Anos depois, inúmeros Chagásicos, começaram a apresentar sintomas.Um “crioulinho”, com capacete de segurança, e farda da Petrobrás, cuja logomarca era um retângulo verde e amarelo com o nome da empresa, chamado de Pretobrás, virou garoto propaganda na época da T.V. preto e branco.
Até música foi criada; “Sai daqui maloqueiro, minha filha só namora petroleiro”.
Dizia-se na época que todo petroleiro é bom de trabalho, comida e “mulé”.
Um antigo petroleiro costumava ser retirado dos braços da amada no “brega” de Candeias, para “pegar no trampo”. Os que trabalhavam no campo, quando chegavam os tonéis, cheios de feijão com chouriço e carne do sertão, e outro de arroz (hoje são servidas quentinhas, feitas e distribuídas por empresas terceirizadas), o petroleiro tirava a “carneira” (armação de plástico, regulável conforme o tamanho da cabeça do usuário, dentro do capacete de segurança), mergulhava o capacete no tonel de feijão, depois no de arroz, “metia” farinha e pimenta e comia tudo.
Dizem que a Igrejinha de Candeias, em agradecimento, foi construída no alto de uma colina olhando para os campos da Petrobrás e não para a cidade.
No Natal um petroleiro levou um peru, como presente para seu chefe, um Engenheiro do Petróleo. Como ele não estava em casa, deixou o peru no jardim, e pendurou no pescoço da ave seu crachá, para que ele soubesse o nome do bajulador.
Logo a notícia se espalhou e ele foi apelidado de Peru de Crachá! Outro petroleiro tinha tido varias mulheres e filhos com todas. Não pagava as Pensões  Judiciais que devia a todas elas. 
A Assistente Social conseguiu convencê-lo que devia fazê-lo, ou poderia ser preso, pois todas deram queixas do salafrário.
Quando se aposentou abriu um bar na beira da estrada de Candeias, frequentado pelos petroleiros da “ativa” e aposentados. Colocou o nome de Bar P.J.

Salvador, 11 de janeiro de 2012.                                                                     Sávio Drummond.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

CAPOEIRA

Os antigos coronéis gostavam de reunir seus escravos, no terreiro da casa grande, após o jantar, e sob a luz de archotes, “vê-los” cantar e dançar os ritmos e músicas africanas.
O Samba Duro, a Umbigada, o Maculelê, jogado apenas com as madeiras chamadas “grimas”, a Puxada de Rede e principalmente a Capoeira.
Toda a família assistia, sob luz de archotes, os negros dançarem essa mistura de dança e arte marcial.
 Criada no Recôncavo segundo alguns pesquisadores, recebeu o nome de Capoeira, que era como chamavam a vegetação que cercava as áreas de Caatinga, e aonde os negros fugidos se escondiam dos perseguidores.
A Capoeira de Angola  por ter sido criada pelos escravos vindos de Angola, recebeu esse nome. Os seus praticantes eram chamados de Angolanos. Tocada pelo Berimbau, feito com uma dura madeira da árvore Biriba (que deu o nome ao instrumento) recurvado como um arco. Para tal, a madeira era presa no solo por fortes grampos e molhada todo dia e deixada secar ao sol, até adquirir a forma desejada. Um fio de metal, percutido com uma vareta de madeira, tendo uma cabaça como caixa de ressonância, que modulava o som ao ser apertado contra a barriga do tocador,  pequenos tambores e um chocalho de palha trançada, com pequenas sementes no seu interior, como um guizo, chamado de Caxixi, passou a ser o principal instrumento musical da luta-dança. Este instrumento, contrário ao que normalmente se acredita, só foi introduzido ao jogo da Capoeira, no final da década de 30 do século passado.
Todavia, o Bedel da Faculdade de Medicina, Manuel Quirino, contemporâneo de Nina Rodrigues registra o uso do Berimbau no jogo da Capoeira em seu livro A Bahia de Outrora de 1916.
Como mostram os desenhos de Rugendas e Debret (Viagem Pitoresca através do Brasil de 1763), o Berimbau era usado inicialmente pelos vendedores ambulantes e cegos, que chamavam a atenção ao tocá-lo, para assim vender seus produtos ou pedir esmolas. A tensão do fio metálico variava, ao se comprimir a corda com um dobrão de cobre, moeda da época.
Os negros, com acompanhamento de voz dos que assistiam, palmas, pequenos tambores que ficavam seguros em um “sovaco” e percutido com a outra mão, abano de palha que era batido contra um porrão de barro, dando um som grave que lembra o surdo, reco-reco, instrumento feito com um gomo de cana com cortes, friccionados com uma vareta de metal e pandeiros, na verdade estavam se exercitando e ensinando aos outros uma eficiente luta que, disfarçada de dança, era aceita e incentivada por seus senhores. 
Na primeira oportunidade, fugiam para os núcleos de resistência, chamados de Quilombos.(Emília Biancardi Ferreira, Folclorista, Professora de música em Raízes Musicais da Bahia, 2006). 
Seus habitantes eram conhecidos como Quilombolas. Ficaram famosos os Quilombos de Maracangalha, no atual município de S. Sebastião do Passé, Arco Zêlo no Rio, onde 300 escravos fugidos e liderados por Manuel Congo que o fundou em 1838, e o mais famoso de todos, o de Palmares, chefiado pelo alagoano Zumbi, filho de reis africanos feitos escravos, e trazidos para o Brasil.
Os Quilombos não eram apenas núcleos de resistência formados por negros fugidos. Neles muitos brancos abolicionistas, criminosos comuns ou políticos perseguidos, procuraram refúgio.

A Puxada de Rede, com seus cantos dolentes, deixou muitas saudades. “O Mestre” solava, e os puxadores repetiam o refrão, ao mesmo tempo em que puxavam a rede, sob a marcação de pequeno tambor, enquanto cantavam:
No mar, no mar, no mar.
No mar eu vi cantar,
No mar, no mar, no mar, minha sereia,
Ela é sereiááá...

Menina do peito duro,
É duro de natureza,
Queria ser criança,
Prá mamá nessa beleza.

No mar, no mar, no mar,
No mar eu vi cantá.
No mar, no mar, no mar minha sereia,
Ela é sereiááá...
  
Quem tivé sua fia moça,
Não deixe apanhá café,
Quando sai ela é moça,
Quando vorta é muié.

No mar, no mar, no mar,
No mar, eu vi cantar,
No mar, no mar, no mar, minha sereia,
Ela é sereiááá... 

Menina por Deus eu juro,
Eu juro e torno a jurar,
No colo que eu dormir,
não deixa outro se deitá.


Ficou famoso o capoeirista de Santo Amaro chamado Besouro.Contam que Besouro, fugindo da polícia, viu-se encurralado. Então, como Jesus, colocou-se de braços abertos em um cruzeiro. O regimento detonou os fuzis, como em um fuzilamento. Nenhuma bala o atingiu, que escapuliu para o mato enquanto os soldados recarregavam as armas.
Os “angolanos” alforriados costumavam jogar a capoeira em praça pública em troca de dinheiro recolhidos em um chapéu.
Os capoeiristas de Angola tinham um “uniforme”. Terno de linho branco, lenço de seda enrolados no pescoço e descalços. Com isso queriam mostrar que ao fim da luta estavam cobertos de suor, com as palmas dos pés e mãos encardidas, mostrando, que elas foram as únicas partes do corpo que entraram em contato com o chão. Se qualquer outra parte tocasse o solo, sujaria o terno. O lenço de seda no pescoço era para proteger este ponto vital, pois a navalha, arma usada pelos capoeiristas, de um só golpe não corta a seda. As academias de capoeira usavam lenços de cores variadas, conforme a graduação do aluno.
Os angolanos costumavam pular os muros dos cemitérios para roubar ossos humanos, e com eles esculpir punhais. Diziam que se o “cabra” não morresse do ferimento, pegaria uma gangrena...Explica-se: os ossos humanos, por terem material orgânico em decomposição, e por estarem enterrados, são ricos em esporos do tétano. Este ferimento geralmente originava a doença fatal.
Dom Pedro II, o amante das artes, poesia e botânica,  acabou proibindo a acapoeira e mandando prender os capoeiristas.
As cadeias da Bahia estavam cheias de capoeiristas, quando estourou a guerra do Paraguai (1864 a 1870). 
A imperatriz Isabel, que herdara a Coroa de seu pai, mandou todos para frente de batalha em troca da alforria, se retornassem.
A liberdade oficial só aconteceria em 1888.
O Brasil foi o último país do mundo a acabar com a escravidão.
A Capoeira Regional foi criada na década de 30 do século passado por Mestre Pastinha, crioulo alto, magro, casado com uma baiana de acarajé. Policial e amante da capoeira de Angola “pegou” seus golpes e a eles acrescentou golpes de luta livre, tornando-a mais agressiva e eficiente.
Nascia a Capoeira Regional.

                                                                                                                 Salvador, 04 de Março de 2013.

Sávio Drummond.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

OLHA O PÃO!

No interior do Recôncavo, protegido dos fortes ventos e ondas do Atlântico, fica a vila de São Tomé de Paripe.
No alto do mais elevado dos morros, fica a Igreja de São Tomé, construída pelos padres e índios, em 1627, e antigo cemitério ao lado.
Como as pessoas eram frequentemente enterradas enroladas em rede (costume indígena), e em covas rasas, as chuvaradas acabavam expondo os ossos. Espetáculo belo e tétrico: brancos crânios e ossos longos como fêmures, tíbias e úmeros, brilhavam ao sol.
São Tomé era antiga aldeia de índios Tupinambás, à beira mar, cujo chefe indígena Paripe, tinha a aldeia principal, na localidade atual de mesmo nome, há 6 Km de distância.
Todo o abastecimento da localidade era feita pelos saveiros, embarcação indiana, trazida para a Bahia de 1530 a 1560.
Esta embarcação chegou a um número de 2000, nas lutas de independência que culminaram com a expulsão das tropas do general Madeira de Melo, aqui e em Itaparica aquarteladas, em 2 de Julho de 1823.
Todo o comércio da cidade, recôncavo, até Cachoeira e São Felix era realizado pelos Saveiros, que “entravam” pelo Rio Paraguaçu.
Seus porões transportavam desde cimento, tijolos, areia para a construção das antigas mansões, a sacos de feijão, arroz, farinha, carne salgada (charque). Com a maré cheia, os saveiros paravam nas rampas, que é a forma mais fácil para transportar pesos (os sacos).
Lá só existe uma escadinha, muito apreciada pelos namorados.
Em São Tomé ficava a venda de Seu Cesáreo, espanhol  já idoso, que passava o dia atrás do balcão, com camisa de meia e lápis atrás da orelha.
No fundo, na parede, uma tabuleta que dizia: “ Fiado só para maiores de noventa acompanhado dos pais”.
Em antigo balcão, seu Cesáreo pesava em precisa Balança Filizola, o popular “agrado”, para as freguesas preferenciais, como minha mãe, que tinham até caderneta, onde as compras diárias eram anotadas e pagas no fim de semana. 
Toda meia noite saía a fornada de pães na padaria atrás da venda.
Comprávamos esse pão, que derretia a manteiga nele colocada e que tomávamos com café com leite. Nossa ceia, antes de dormir.
Diariamente, um garoto saía às 7 e às 5 da tarde, com enorme balaio na cabeça, vendendo o pão de Seu Cesáreo.
- Olha o pão!
E São Tomé inteiro comprava o pão de Seu Cesáreo para o café e jantar.
Certo dia o garoto mercava e ninguém queria comprar o pão para o jantar.
- Olha o pão!
E nada, o que exasperou o garoto.
- Olha o pão, porra!
Deram queixa a Seu Cesáreo, que demitiu o garoto.


                                                                                           
Salvador, 04 de Maio de 2013

Sávio Drummond






quarta-feira, 17 de abril de 2013

SONETO PARA DORALICE




Doralice adora a vida,
 e a vida adora ela.
Eu adoraria a minha vida,
se Doralice estivesse nela.

Quando à noite penso nela,
de saudades meu peito estala.
O vento entra pela janela,
e “cantando” meu sono embala.

 Veio como o vento,
 e sem permissão se instalou.
 No meu coração e no meu pensamento,
E sussurrando falou;

A vida me deu tudo,
 menos de Doralice, a paixão.

Por isso sigo mudo,
Sufocando meu coração.

                                                                                          Salvador, 31 de Maio de 2012.
Sávio Drummond.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

ENCANTADO


Na Cidade da Bahia, usa-se  esse termo para algumas pessoas quando morrem.
Aí  se costuma dizer “que não morreu, virou encantado”. Ao contrário dos Vampiros e Zumbis, que segundo a lenda ressuscitam, mas não têm alma, o Encantado é a própria alma, que ao aparecer assusta e passa a fazer “visagem”.
O encantado ajuda os que ficaram, mas a sua presença assombra, daí dizer-se que fazem visagem”.
Um que virou encantado foi um primo meu, que se
intitulava Irmão de Caridade Couto, vulgo Putanheiro Velho.
Qual Vadinho, no romance Dona Flôr e seus Dois Maridos, Irmão Couto, passou a ajudar os necessitados das noites baianas, ou seja,  as velhas putas e “Putanheiros “ necessitados. 
Certa feita, “Vivi, Língua de Veludo “ vinha andando rapidamente e com medo, doida para chegar no brega em que morava, pois já passava da meia noite, e nesse horário no Pelourinho, o assalto era certo. Nisso, dois marginais armados de navalhas, correram atrás dela para assaltá-la. Vivi corria e chamava por Santa Madalena, protetora das putas, mas o assalto era eminente. Quando estava para ser alcançada, Irmão Couto os derrubou com duas rápidas e certeiras  rasteira, agarrou-os pelos testículos e chamou Vivi para fazer o mesmo e levá-los para a Delegacia de Proteção ao Turista.
O Delegado e policiais plantonistas, até hoje lembram, entre risos da cena: Vivi segurando os dois homenzarrões pelos “bagos” (Irmão Couto, invisível, é que os estava triturando), e apresentando-os a autoridade policial.
Eram marginais que a polícia estava tentando prender “ de há muito”, pois tiravam a paz do Pelô à noite.
Irmão Couto virou Encantado. 
Outro parente meu, morto em um assalto, certa feita muito me ajudou.
O dia amanhecia e eu vinha do Largo da Palma, onde tinha estudado toda a noite com um colega.
Nisso um rapaz, sentado em uma cadeira de engraxate (antigamente elas ficavam acorrentadas a arvores, nas praças) pediu:
- Toque aqui, barão.
Sob o pretexto de acender um cigarro, queria que me aproximasse o suficiente, para com uma faca, certamente me roubar.
Nisso o primo morto, “do nada” apareceu ao meu lado, e com a mão no bolso do casaco, engatilhou uma arma.
O barulho de engrenagem ressoou na madrugada, e fez o provável ladrão dizer:
- Você é esperto, não tinha visto seu segurança.
O primo morto também virara Encantado...

                                                                                                              Salvador, 06 de Fevereiro de 2013.                                                      Sávio Drummond.

DÍZIMO NÃO É DINHEIRO


                                                            
A religião vivida de forma extremada pode causar sérios riscos. A história está cheia de exemplos. 
Dizem que o cearense Antonio Vicente Mendes Maciel, um professor primário e advogado prático (rábula), da cidade de Quixeramobim, nascido a 13 de Março de 1830, foi traído pela mulher, que fugiu com um sargento de polícia.O coitado não aguentou o peso da traição e enlouqueceu. Depois do ocorrido, Antonio Conselheiro, que queria ser padre, abandona tudo, e em 1874 o jornal sergipano O Rabudo, define uma estranha figura que andava pelos sertões do nordeste: " Há seis meses que por toda esta província e província da Bahia, chegado do Ceará , infesta um aventureiro santarrão, que se apelida de Antonio dos Mares.  O que, à vista dos aparentes milagres, que dizem ter ele feito, tem dado lugar a que o povo o trate por Santo Antonio dos Mares. Esse misterioso personagem, trajando uma enorme camisa azul que lhe serve de hábito, à forma de sacerdote, pessimamente suja, cabelos mui espessos e sebosos, entre os quais se vê claramente uma espantosa multidão de piolhos. Distingue-se pelo ar misterioso, olhar baço e tez desbotada e de pés nus, o que tudo concorre para tornar a figura mais degradante do mundo”.
Essa figura messiânica passou a vaguear pelos sertões, pelos seguintes 25 anos, fazendo um número enorme de seguidores. 
Em 1893 fixou-se no arraial de Canudos e começou a construção de uma cidade, onde morariam aqueles que iriam pro Céu, após a morte: a cidade de Belo Monte.
Por acharem que Antonio Conselheiro queria restaurar a monarquia ( e ele nunca quis isso), fazendeiros da região de Uauá, convenceram o governador Manoel Vitorino, a acabar com o povoado de Belo Monte.
Da guerra travada então, resultaram pelo menos 25.000 mortos do lado dos “Conselheiristas”, e 10.000 governistas, após duas incursões baianas e duas federais, encaminhadas pelo presidente Floriano Peixoto.
Por causa de religião vivida de forma fanática, o americano Charlie Manson, cometeu uma série de assassinatos, inclusive o da atriz Sharon Tate, que estava grávida.
Na Venezuela, o líder religioso Tim Jones, convenceu uma multidão de mais de 900 pessoas a cometerem suicídio, pois persuadiu-os que reencarnariam em uma nave que estava na cauda do cometa Halley, e que iriam para um mundo melhor.
O indiano Bhagwan Shree Rajenesh foi expulso dos EUA, pois estava criando uma comunidade de fanáticos, que contribuíam para que ele se tornasse um milionário.
A mesma coisa  faz a maioria desses pastores evangélicos.
Às custas de pseudos milagres, mantém uma legião de inocentes úteis, que em busca de curas milagrosas, ou um “lugarzinho” no paraíso, contribuem com 10 % do que ganham.

Dízimo, NUNCA FOI DINHEIRO
                                                                                                                          Um pastor sério, amigo meu, fez um levantamento Bíblico, onde em 35 lugares (da Bíblia), consta claramente que Dízimo é 10% da produção agrícola, das cabras, das hortaliças, do mosto, etc, com que as tribos de Israel sustentavam a Tribo de Leví, a que carregava a Arca da Aliança e armava o Tabernáculo.
Dízimo em forma de dinheiro é invenção desses falsos pastores, para que os fiéis os tornem grandes fortunas.
Recentemente uma revista americana, publicou o nome dos três mais ricos pastores do mundo. O 1º da lista era o brasileiro Edir Macêdo!
Outros dois brasileiros menos ranqueados apareciam nessa lista. Algumas Igrejas Evangélicas não passam de “fábricas de ganhar dinheiro”.
Tornou-se um dos negócios mais rentáveis do mundo, falar em nome de Jesus!
O próprio Mestre nos avisou:
- “ Muitos virão em meu nome e farão prodígios”.
Há uns 15 anos, fui a uma delas, para ver e formar um juízo crítico.
Era pior que pensava. “Boquiaberto” vi o Pastor pedir:
-“Quem tem 10.000,00 pra Jesus” ?
Depois de ver inúmeras seções onde o diabo era tirado do corpo das pessoas, onde 80% delas eram mulheres, mais impressionáveis conforme a psiquiatria. 
Ver As bruxas de Salem, Jeanne D`Arc, e os 300 anos de “caça as bruxas, pela Santa Inquisição), pareceu-me óbvio que o Diabo é o melhor amigo dos Pastores.
Pois se não fosse ele, como manter uma legião de inocentes úteis dizimando, ou seja, dando dinheiro para o pastor ter vida mansa, carro do ano, casa própria e o filho estudar em escola particular?
E haja criatividade para tirar um dinheirinho dos fiéis!
É o Martelinho Pra Quebrar As Pedras Do Caminho, Spray “Tira Capeta Do Couro”, Gota Do Milagre, Cornetas (pareceu-me vuvuzelas) Que Derrubaram Os Muros De Jericó, e por último o admirável e surpreendente lançamento de uma Bispa, o Perfume Com Cheiro de Jesus!
Ainda bem que nessas igrejas não existem imagens de santos, pois se houvessem, certamente seriam o de uma cédula de 100 Dólares, Euro, ou Libra Esterlina.
Tá amarrado em nome de Jesus!


                                                                                                                            Salvador, 22 de Março de 2013.                                                                                                                                                                                      Sávio Drummond.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

BANALIZAÇÃO DO MAL


Quando as coisas ocorrem com frequencia em nossas vistas, quando elas passam a fazer parte do nosso “dia a dia”, acabamos nos acostumando com elas. Como dizia Gil, parece um aleijão. Ninguém gosta, mas a ele já estamos habituados, como à feiúra.
Já nos acostumamos com a roubalheira dos políticos. Maus políticos mancharam o nome dos bons, através das obras superfaturadas, dólares na cueca, Mensalões e o já institucionalizado PF (Por Fora), cobrado também pelos Funcionários Públicos corruptos.
Até para enterrar um parente é bom dar o PF, também conhecido como “a cervejinha” aos coveiros, senão o caixão pode cair. 
Acidentes acontecem...Maus policiais também não recusam “uma cervejinha”.
Médicos cansados, tendo que trabalhar em vários lugares, graças aos péssimos salários, erram com frequencia e “passam” a imagem que todo Médico do Sistema Único de Saúde, é ruim e trata mal ao doente.
Durante a guerra do Vietnã (1959-1975), era revoltante ver as crianças ao irem para a escola, em Saigon (Vietnã do Sul), e principalmente Hanói (Vietnã do Norte), pularem sobre corpos, ou poças de sangue, sem nenhum constrangimento. Estavam acostumadas! Também no Camboja, a cena se repetiu entre 1975 a 1976, onde o Khmer (lobo) Vermelho patrocinou a morte de mais de 400.000 soldados e civis.
Muitas pessoas morreram por defenderem interesses de milhares e contrariarem os benefícios de poucos, ante uma opinião pública “anestesiada”, ante tanta falcatrua e impunidade.
Acredito que se Jesus Cristo, aparecesse no Jornal Nacional, em cadeia nacional para, utilizando-se dos recursos de comunicações atuais, divulgar novamente (estamos precisando) sua Doutrina, provocaria a maior audiência de televisão de todos os tempos. Se insistisse e aparecesse diariamente, em breve diríamos:
- Hiiii...lá vem aquele barbudo novamente falar de amor, e eu com tantas contas pra pagar. Muda de canal!                                                                                                                 Lembro-me de Rui Barbosa; “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.Não Mestre Rui, desanimar-se sim, a rir-se e ter vergonha nunca! Como disse Martin Luther King; “Não me preocupo com o barulho dos maus, mas com o silencio dos bons”.
Hoje é impossível não ser bombardeado com uma saraivada de iniquidades ao assistir um noticiário. Todos os dias.
A banalização do erro incentiva os maus a errarem! 
Não cale, faça barulho ante o errado!Quem cala consente!

Chico Mendes (1944-1988), líder sindical, foi assassinado em Xapurí no Acre, por defender o chamado “Povo da Floresta”, os Indígenas, Seringueiros, Castanheiros, Pescadores, Quebradoras de coco babaçu , populações ribeirinhas e a floresta. Contrariava os interesses dos madeireiros, desmatadores e exploradores de trabalho escravo. 
Steve Bantu Biko (1946 - 1977),por lutar contra o “apartheid” na África do Sul, colônia Inglesa nessa época.                                                                                                                         Preso por essa atividade foi espancado por policiais branco, sofrendo Traumatismo Crânio Encefálico.
Martim Luther King (1929-1968), Pastor Protestante, morreu por defender a igualdade de direito para os negros e para as mulheres nos Estados Unidos. 
John Fitzgerald Kennedy (1917-1963), pela Máfia da indústria armamentista, que ganhava bilhões de dólares, ao municiar o Exército na Guerra do Vietnã, embora até hoje não tenha sido possível  essa prova, ao começar a retirar as tropas do sudoeste asiático.
Nelson Mandela passou 27 anos preso, por lutar contra o “apartheid” na África do Sul.
Dorothy Mae Stang (1931-2005), missionária americana naturalizada brasileira e morta aos 73 anos, no município de Anapu, no Pará. Morreu por defender a reforma agrária e reflorestamento das áreas desmatadas, provocado pela construção da Rodovia Transamazônica.
Mahatma Ghandhi (1869 - 1948), chamava-se Mohandas Karamchand Ghandhi. Mahatma é um titulo que significa Grande Alma.
Defendia a“Resistência Pacífica”, e através dela conseguiu a independência da Índia, em 1947, deixando de comprar produtos ingleses .
Foi morto por um hindu extremista, devido a concessões feitas aos muçulmanos, na criação do Estado Paquistanês.

Sávio Drummond
Janeiro de 2013.