quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A ATRIZ


No “fundo” todos nós somos atores.
Estamos sempre interpretando um papel, procurando mostrar para os outros, aquele indivíduo que gostaríamos de ser.
Só tiramos “a máscara”, quando estamos a sós, ou quando vamos dormir.
A sinceridade, como diz o ditado popular, só existe nas crianças, no vinho e na fidelidade.
Quem não quer ser mais alto, mais bonito, mais inteligente?
O carnavalesco paraense Joãozinho Trinta já dizia; “Pobreza é coisa de intelectual, e acrescentaram; “Beleza interior, só é bom mesmo para decorador... 
Também Vinícius de Morais; “ As feias que me desculpem, mas beleza é fundamental”.
Graças à busca do “Tipo Ideal”, mais magro, mais jovem, mais bonito, é que os Cosmetólogos, as Clínicas de Estética e Rejuvenescimento, as dietas milagrosas e Cirurgiões Plásticos implantando cabelos, e silicone nos seios, fazem tanto sucesso.
Todos nós queremos enganar o tempo...
Nada contra, eu também gostaria de ter 1,90, olhos verdes, cabelos longos e lisos e ser “saradão”.
Você já reparou como as academias de ginásticas, ficam repletas antes do verão? Quem não quer exibir um belo corpo em sungas e biquines nas praias?
E principalmente viver bem mais que a expectativa de vida atual, nas sociedades com os problemas básicos de alimentação e esgotamento sanitário resolvidos.
Mas infelizmente ainda se morre de diarreia e de doenças ligadas a fome e a miséria!
No fundo da mente todos nós temos um ser mágico.
Para mim a atriz, misteriosa, sedutora, personagem vestida de sonhos, a povoar minha mente e a roubar-me o sono, nos momentos de solidão, e enquanto o espero chegar.
Em busca de material para este conto, fui a Internet e deparei-me com a música Beatriz de Chico Buarque e Edu Lobo, gravada pelo Milton Nascimento.
Confesso que fiquei com ciúmes, pois gostaria de ter feito a letra, pois é exatamente o que penso a respeito da Atriz.
BEATRIZ
Olha,
Será que ela é moça,
Será que ela é triste,
Será que é o contrário,
Será que é pintura, O rosto da Atriz?
Se ela dança no sétimo céu,
Se ela acredita que é outro país,
E se ela só decora o seu papel, 
E se eu pudesse entrar em sua vida...
Olha,
Será que ela é de louça,
Será que é de éter,
Será que é loucura, 
Será que é cenário,  
A casa da atriz?
E se ela mora em um arranha-céu,
E se as paredes são feitas de giz,
E se ela chora em um quarto de hotel,
E se eu pudesse entrar em sua vida...
Sim, me leva pra sempre Beatriz,
Me ensina a não andar com os pés no chão,
Para sempre e sempre por um triz.
Ai, diz quantos desastres tem em minha mão,
Diz se é perigoso a gente ser feliz...
Olha,
Será que é uma estrela, 
Será que é mentira,
Será que é comédia,
Será que é divina,
A vida da Atriz?
E se ela um dia despencar do céu,
E se os pagantes exigirem bis,
E se o Arcanjo tirar o chapéu,
E se eu puder entrar na sua vida...
Salvador, 23 de Agosto de 2012.
Sávio Drummond.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O AVOADO


Termo muito utilizado em Salvador, que quer dizer distraído. Aquele que “avoa”.
Quando criança e adolescente, tinha uma memória privilegiada.
No Salesiano, havia um “pequeno vestibular”, para que o aluno da 5º série, também chamado Admissão, pudesse ingressar no Ginásio. Português, Matemática, Geografia, História Geral e Ciências Naturais eram as matérias.
Por detestar Matemática, decorei os 250 problemas, (pois os problemas de Matemática eram os do livro adotado no curso), que meu pai resolvera para mim.
Ao respondê-los, sabia até em que pagina do caderno que “enchi” com eles, estava.
Anos depois, ao ensinar meu primo para um concurso, voltei a estudá-la, e a enxerguei com “outros olhos”. É a única ciência exata, e infalível. “Tijolo do Universo”, graças a ela Einstein e outros gênios da Física,como Pitágoras, Galileu Galilei, Carl Sagan, Isaac Newton e Stephen Hawking, decodificaram o Universo e teorias, ainda não comprovadas, foram lançadas.Ela é a “Linguagem Universal”, e no dia em que estabelecermos contato com civilizações extraterrestres, à comunicação será feita através da Matemática, pois 1 + 1 é igual a 2, aqui, em Alfa Centauro, Sírius ou Aldebaran.
Aliada a memória, a distração, o “avoamento”, me pregou “inúmeras peças”.
Quando adolescente, saí de casa só para colocar uma carta no Correio. Quando lá cheguei, “cadê” a carta? Tinha-a deixado em casa!
Quando morava em São Tomé de Paripe, ia para o trabalho em meu carro. Um Fiat 147, que diziam que o nome Fiat, na verdade são as inicias de Fui Iludido Agora é Tarde. Era uma empresa no Pólo Petroquímico, em Camaçari.
Certa feita voltei no ônibus da Empresa e quando cheguei, “cadê” meu carro que deixava debaixo do tamarineiro, em frente lá de casa? Já estava na delegacia de Peri-Perí, para registrar “o furto”, quando descobri as chaves  no bolso. Tinha esquecido que deixara o carro no estacionamento da Empresa.
Quando de certo curso que fiz em um hotel, ao voltar para o quarto, “morto” de cansaço, deitei-me com a intenção de descansar um pouco antes de ir dormir. Acordei com forte luz no rosto e dois seguranças apontando armas para mim. Tinha entrado no quarto vizinho, que coincidentemente estava aberto, pois não reparei o número na porta.
Data de aniversário, nem falar. Mas imperdoável mesmo é esquecer a data de casamento... Quando foi mesmo?
Mas o maior esquecimento foi quando levei minha esposa, no último mês de gestação para realizar a Ultrassonografia que o médico assistente solicitou. O resultado saiu de imediato, e já estava no hall do edifício, quando o porteiro me identificou e disse que o médico que a realizou estava me chamando de volta.                                                                    Preocupado retornei, quando ele me tranquilizou:- Você esqueceu a “mulé”! 
“Homenageando” meu esquecimento fiz uma poesia que em um dos versos diz:

Tenho tonturas.
Talvez sejam da idade.
A cabeça nas alturas, sem a identidade
Do caminho em que vago,
Vira latas da vida, que não me fez afago.

Hoje sou capaz de me perder dentro de casa, sempre fui um “desbussolado”, e só sei se já comi ou não, se o “estomago roncar”.      O tempo é cruel...  
                                                                                           Salvador, 24 de Julho de 2012. 
Sávio Drummond.