quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

ALFA CENTAURO

Encontrava-me a bordo de uma nave interestelar, chamada Pégasus, que criava um campo gravitacional em torno de si e ao inverter a polaridade desse campo disparava rumo ao espaço, com aceleração semelhante à da gravidade, ou seja, 9,8 m/seg. a cada segundo. Ao utilizar o campo gravitacional dos planetas, no exato momento em que os tangenciávamos, éramos “catapultados”, ao invertermos a polarização, e deixamos o Sistema Solar a fantásticos 12.000 km/ seg.
Nosso destino era a estrela mais próxima da terra, Alfa Centauro. Alfa, 1º letra do alfabeto Grego, é como se designa a estrela mais brilhante de uma constelação ou o líder de uma manada, bando ou matilha. 
Duas estrelinhas alinham-se apontando para a constelação do Cruzeiro do Sul. A mais brilhante é ela, o sistema ternário chamado de Alpha Centauri.
Mesmo ao viajarmos a tão fantástica velocidade (máximo alcançado pelo homem é de 25.000 km/hora, velocidade das naves na reentrada da atmosfera), levaríamos 51,6 anos para atingirmos o sistema de Alfa Centauro, pois se encontra a 4,3 anos luz de distância. Para resolver esse problema foram acionados os motores de neutrinos, que lançam as partículas subatômicas, acima da velocidade da luz (299.793 km/seg.), em um luminoso rastro azulado, e em velocidade sempre crescente, em 5 meses e 18 dias começamos a desacelerar, para não passarmos, ou para que pudéssemos pousar suavemente em um planeta que orbita Alfa Centauro A. Sinais captados por radiotelescópios, oriundo do 5º planeta , pouco maior e tão massivo quanto a Terra, que gira em torno da mais brilhante das três estrelas, eram fortes indícios de vida inteligente.Naves não tripuladas para lá foram lançadas e fotos mostraram um mundo com nuvens, terra, água e abundante vegetação.Sua atmosfera foi analisada e 25% de O2 em vez dos 20,9%, do nosso ar, revelou-se em  uma atmosfera saudavelmente respirável. Só não foram registrados os prováveis seres inteligentes que há anos vinham mandando mensagem às estrelas.
Antes da aterrissagem, todos os 32 planetas que orbitam o sistema foram examinados. Não apresentavam condições de manter a vida, pelo menos, como a conhecemos.Alguns eram gasosos como os gigantescos Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Outros ou estavam muito perto das estrelas, com temperaturas de até 324°C ou longe demais, onde -250°C eram atingidos.  Em um chovia gasolina, e em outro H2SO4 (Ac. Sulfúrico). Em outro a quantidade de CO2 na atmosfera era asfixiante, em outro, furacões atingiam 420 km/hora e despedaçariam qualquer um, e em outro a pressão atmosférica era 100 vezes maior que a Terrestre.Serviriam como “trampolim” no retorno, permitindo um retorno mais rápido. 
A inospitabilidade não “dava guarida” ao frágil ser humano, apenas o das transmissões radioestelares estava na chamada zona habitável. Em todos, os pôr dos Sóis eram maravilhosos. Três alaranjados Sóis desapareciam atrás do horizonte, tingindo tudo de carmim. Pousamos em um descampado, perto de pequena e densa floresta, próximo ao que os indicadores de vida mostravam ser uma grande cidade. Analisadores da atmosfera mostravam o que já sabíamos. O ar era perfeitamente “limpo”, sem sequer traços de CO (Monóxido de Carbono), comum nas cidades, devido à queima de combustíveis fósseis. Certamente superaram este problema. 
Resolvemos deixar qualquer arma, na nave. De que adiantariam se os habitantes locais resolvessem ser hostis? Só passaríamos a imagem de sermos belicosos. Mantivemos dois astronautas na nave e levamos apenas os radiocomunicadores. 
A rampa da nave nos levou à grande área gramada, protegida por um pequeno bosque. Adiante deveriam começar as habitações suburbanas da metrópole de aproximadamente cinco milhões de pessoas, identificada quando do sobrevoo, e por isso escolhida para a aterrissagem. Ao sairmos da floresta “a vista” se perdia no horizonte. Nada a nossa frente como os aparelhos mostravam. - Foi para isso que viajamos mais de 41 trilhões de km? Exasperado, gritou um dos integrantes, enquanto arremessava uma pedra contra a fictícia cidade. Para espanto de todos a pedra ricocheteou no ar. Repetimos a experiência, e a mais primitiva das armas mostrou que um campo de força repelia-as.
Pedi a todos que diante do escudo invisível, levantassem as mãos, mostrando que não estávamos armados, e que nossas intenções eram pacíficas.Assim fizemos e uma grande cidade com edifícios, viadutos, veículos terrestres e voadores apareceu. Dois indivíduos desceram de uma espécie de carro voador que pousou próximo a nós. 
Poucos metros separavam o homem, da resposta de sua maior pergunta: Estamos sós no Universo? 
Dois seres hominídeos, pararam ante a barreira e levantaram as mãos direitas, em um gesto universal de paz. Repetimos o gesto e apertando um botão de um pequeno aparelho, como um controle remoto, vieram em nossa direção. A barreira, provavelmente o enorme campo de força, tinha sido desligada.alguém; Abaixei a cabeça (gesto submisso, de quem oferece o pescoço ao adversário). Entreolharam-se, (como se perguntassem o que significava isso?) e nos imitaram. O contato imediato do 2º grau tinha sido estabelecido.
Vestiam longas túnicas claras, e eram muito altos, de prováveis 2,10 a 2,15 m. A pele muito clara, olhos azuis e os cabelos brancos, mostravam que evoluíram sem a exposição “equatoriana” aos raios Solares.Subitamente em minha mente formou-se um pensamento:  Bem vindos ao nosso planeta, 5º a orbitar a estrela mais perto da sua. Há dezenas de anos mandamos mensagens através de radiotelescópios, na esperança de sermos ouvido. Finalmente conseguimos.
Olhando-os de perto e mais atentamente, percebi que um era pouco mais alto e tinha os ombros mais largos. O outro tinha os traços mais delicados e pequenas protrusões destacavam-se por baixo da túnica. Eram seios.  Ambos eram imberbes. Macho e Fêmea vieram nos receber.Entramos no carro voador e fomos à cidade. Em nosso voo percebi que havia “corredores” aéreos, e que os carros que andavam nas pistas, obedeciam a semáforos, assim como na terra. Só que tudo mais ordenado e limpo. Parecia que os sentimentos de cidadania e coletividade eram bem mais intensos. Sentamo-nos em confortáveis poltronas, enquanto nossos anfitriões perguntaram se não queríamos conhecer o planeta? Ante a resposta afirmativa, dois jovens fizeram sinal ao grupo que os acompanhassem, e quando me levantei para acompanhá-los, pediram para que ficasse. Entendi então por que desejavam que permanecesse. Os pensamentos que em minha cabeça se formavam, era telepatia e dos membros da equipe, eu era o de maior receptividade e poder de comunicação.
Desejavam através da telepatia fazer um dicionário falado, para que a comunicação verbal fosse possível em futuros encontros.Uma palavra era pensada por eles e eu a verbalizava. Uma máquina gravava minha resposta. Eles então a falavam em sua língua, como em um tradicional dicionário. Em futuros encontros a máquina, que gravava qualquer pensamento, mesmo dos não telepatas, abastecida com milhares de verbetes e frases inteiras, emitiria o som na língua de cada interlocutor, bastava formar a frase mentalmente. Enquanto os companheiros exploravam o mundo distante, por cinco dias, dia e noite procedi aos exercícios, inicialmente cativantes, depois entediantes, finalmente exaustivos.
Seu dia era de 26 hs.  Treze diurnas e 13 noturnas.Não tinham estações, pois o planeta não era inclinado em relação à estrela, e sua orbita era perfeitamente circular.
O pôr dos Sóis magníficos, sendo que nos pólos a menor das 3 estrelas, a anã vermelha, nunca se punha. Era o Sol da Meia Noite deles.
Disseram que quando chegamos, resolveram não se mostrar até terem certeza de nossas intenções, pois por diversas vezes estiveram aqui, e ao presenciarem as guerras, onde milhões se mataram, deixaram de vir.
Para conquistar territórios, fazer escravos, tomar riquezas como o ouro, petróleo e até por religião, guerrear sempre foi a maior habilidade do Ser Humano.Muitas pinturas, inclusive algumas Bíblicas registravam suas presenças entre nós, anteriormente.Alguns povos na antiguidade os tomaram por Deuses.
Não tinham dinheiro, e a vida entre eles era comunal. Tudo era de todos, conforme suas necessidades temporárias. A divisão de trabalho baseava-se nos dons ou inclinações e não nas necessidades materiais do grupo, pois o número de máquinas substituindo a mão de obra dos habitantes era enorme. Por fim, pude conhecer rapidamente o planeta. Viajara tanto para “bater papo”. A despedida foi triste, como a maioria das despedidas. Falaram-me que estariam sempre prontos a me ajudar, através do pensamento.Para o pensamento não há barreiras. Não há tempo ou espaço.
Acordei chorando.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                  
 Salvador, 27 de Dezembro de 2011
                                                                                   Sávio Drummond

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