quarta-feira, 28 de setembro de 2011

MULHER É BICHO ESQUISITO...

Como disse Rita Lee mulher é bicho esquisito, todo mês sangra.  Um professor meu, de ginecologia e obstetrícia, falava: - Via de regra, todo mundo sabe o que é. É a vagina, por onde sai à regra. 
Esse professor contava que todo mês, o útero preparava-se para abrigar a célula ovo (óvulo fecundado). Porém o óvulo indiferente passava e nem olhava a “casa” que lhe fora preparada. O útero então chorava “lágrimas de sangue”.  Conseguiu fazer poesia com a menstruação, o quê levou os estudantes a chamar-lhe de “poeta do mênstruo.”  
Grande número delas (75%), sofrem nos dias que antecedem a menstruação de Tensão PMenstrual, ou Todos os Problemas Misturados. Tornam-se irritadiças, com cefaléia e de paciência curtíssima. Nesse período é melhor você voltar a época da alfabetização e aprender apenas as letras  O.B.D.C. Evita problemas. Em seu banheiro, tem Xampus para cabelos secos, oleosos, normais e um para todo tipo de cabelo. Porque ela não compra apenas esse? 
Sempre se queixa do machismo dos homens. E quem cria e educa o machista? Tem um ditado que diz que cabeça de mulher e de treinador de futebol, guardam segredos insondáveis. É a pura verdade. Engana-se quem acha que as entende perfeitamente.
E como falam. Quando Cristo ressuscitou, apareceu à Madalena e outras mulheres que foram lavar-lhe o corpo e untá-lo com óleo como era costume, na época. Na verdade ele se assegurava de que a notícia se espalharia logo. Não deu outra, em pouco tempo, toda Jerusalém já sabia da novidade. Em um restaurante normalmente vão juntas ao banheiro. Pra quê? Pra falar da que não foi, de como anda mal vestida etc...  
Até o licenciamento do veículo para mulher é mais barato, pois elas batem menos. Concordo, elas são bem mais cuidadosas e dirigem com mais atenção. Mas quando vires um fila de engarrafamento pode ter certeza. Lá na frente tem um carro batido por homem, ou uma mulher dirigindo com muita atenção e cuidado, engarrafando tudo, pois às vezes é necessário andar rápido.  De ombros estreitos, e quadris largos tem um triangulo apoiado na base como símbolo. Estável, não cai nunca. 
O homem inversamente, por ter os ombros largos e os quadris estreitos, é representado por um triângulo apoiado no vértice. Resultado, não para em pé. E depois a chamam de sexo frágil. Frágil? Já pensou se o homem é quem parisse? A humanidade teria entrado em extinção. Até no berçário são diferentes. A menina é mais delicada, tem as mãos menores. O menino normalmente (crianças a termo, de 9 meses) é maior, chora mais forte, acorda os outros e logo o berçário todo está aos berros. 
Segundo a Bíblia, Deu fez o Sol e as estrelas e descansou. Fez a Terra e descansou. Fez os seres vivos, macho e fêmea e descansou. Fez o Homem segundo sua imagem e semelhança e vendo que o homem estava só, o pôs para dormir, tirou-lhe uma costela e dela fez Eva, a 1º mulher! Aí nem Ele, nem o Diabo nem o Homem, ninguém nunca mais descansou.  Segundo o mesmo livro, Deus fez o Homem antes da Mulher, por que todo grande artista antes de fazer uma obra prima faz um rascunhozinho “chifrim” e joga fora. 
Tem uma música que diz; “Mulher não trai, mulher se vinga”. Não é verdade trai, e o faz bem melhor que o homem. O côrno sempre é o último a saber.  Elas também se queixam que os homens não levantam o assento sanitário quando vão urinar e molham tudo. Queria ver elas fazendo xi-xí em pé se não molhariam muito mais!
Como disse Erasmo Carlos; “mulher, mulher, na escola em que você foi ensinada, jamais tirei um dez. Sou forte  mas não chego aos seus pés”.    

Salvador, 20 de Setembro de 2011.   
Sávio Drummond.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O PUXA SACO

 No município de São Francisco do Conde, existe uma localidade chamada Campinas. O prefeito de um dos mais ricos municípios do Brasil, graças aos “Royalties” pagos pela Petrobras, foi inaugurar a Escola Pública de Campinas, para um povo miserável. Haja ladrão!
Um palanque foi armado no centro da cidade. E debaixo de um sol nordestino, inúmeras sombrinhas e guarda-chuvas foram abertos. Um cheiro de sabão de côco e água de colônia, misturava-se a um nauseante “bundum” de suor que rapidamente tomou conta do ambiente.
Seu Cícero (Cicinho para os amigos e as nêgas que mantinha), que tinha aspirações políticas (queria ser  vereador), e para isso fazia inúmeras promessas para “quando fosse eleito”, começou seu discurso:
- Povo de minha Campinas querida, com muita honra apresento o prefeito de nossa amada São Francisco, o maior administrador que nossa cidade já teve. O Dr. Cajado (o prefeito só tinha o primário) até no nome apóia os mais necessitados. Nossa amada cidade muito deve a esse homem. Por ela ele dá até o... que tem e o que não tem. Foi ele que iluminou-la, calçou-la, aguou-la, aterrou-la e esgotou-la. Sem ele todos nós estaríamos andando as cegas, e pisando na água ou pior, na merda. Para esse homem, para nosso pai, peço uma salva de palmas.  Muita vaia e uma ou outra palma.
O prefeito, começou seu discurso, frequentemente interrompido, pelas solitárias palmas de seu Cícero, e envergonhado pelas vaias do povo rapidamente o encerrou. 
Seu Cícero continuou:
- Gente ingrata que “cospe no prato em que comeu”...   
- Cala a boca puxa-saco, gritaram da multidão que começou a se formar. 
 Seu Cícero esquecendo que estava com o microfone, retrucou: 
- Puxa saco é a puta que te pariu! 
A professorinha querendo encobrir os xingamentos entre Seu Cícero e a multidão, faz sinal para a bandinha 25 de Junho, (data da emancipação de São Francisco), que atacou com “Pra Frente Brasil”, e outras emboloradas “pérolas”. 
A um sinal da “pró” a criançada começou a cantar, “perseguida” pela bandinha:
 - “Muito obrigado Seu Cajado, obrigado Cajadinho, que Deus lhe pague em graças, o que você nos deu de carinho... Que Deus lhe cubra com a Mão, por toda sua atenção”...  
A desafinação era enorme. Não tiveram tempo para ensaiar, e “cada um pro seu lado”.
A esposa de Seu Cajado, a mulata Jurema de enorme bunda e peitos fartos, emocionou-se com as crianças e começou a chorar.
 -“Passe lá em casa que eu lhe consolo” gostosa”, gritaram da multidão.
Um grupo vindo da localidade de Caroba, vilarejo vizinho tal qual Campinas, aproveitou a ocasião para protestar contra o Prefeito. A um ano, Seu Cajado inaugurara, em Caroba, uma escola que nunca funcionou, porque não contratou professores.
Com faixas de protesto a multidão começou a vaiar e jogar frutas podres, em quem estava no palanque, no caso Seu Cajado e Seu Cícero, pois todos os outros debandaram.
- Vocês são um “Rebanho de Ingratos”, começou a gritar Seu Cícero, e nem o grupo pago para aplaudi-lo, conseguia com os enormes tambores chamados de “Tapa Vaia”encobrir o barulho da revolta popular, quando um tomate podre acertou-o na testa.
 -“Vá jogar na mãe, filho de uma quenga”!
Um ovo podre, acompanhou o tomate e um cheiro horrível (gás sulfídrico)de peido, obrigou Seu Cícero a “bater em retirada”. 
Protegidos por quatro “enormes” seguranças, chegaram até o carro, que partiu em disparada, sob uma chuva de tomates e ovos podres. 
No ano seguinte, “Cicinho” foi eleito vereador, para delícia sua e das “teúdas e manteúdas”.


Salvador, 22 de Junho de 2011
Sávio Drummond 

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

IRMÃO COUTO

Fernando Spínola, aliás o Irmão de Caridade Couto, como ele mesmo se intitulava, Prior da Irmandade Pia
Dizia ele que com a morte do irmão Hemilton (meu pai), herdou ele a Prioridade da Irmandade. A Irmandade Pia, segundo Fernando, era uma Entidade Religiosa, sem fins lucrativos, que visava o atendimento aos necessitados.
Guardo até hoje, na contracapa de um livro, escrito a maquina, a dedicatória assinada pelo Irmão Couto.
“ Ao Irmão Sávio, dedico esta obra, impressa nas oficinas da Irmandade Pia, com muito carinho. Ficam também convidadas as irmãs, que por força das circunstâncias, virem a precisar dos préstimos piedosos da alma caridosa do Reverendo Irmão Couto.
Certo de que foi feito mais um ato de Piedade Cristã, subscrevo aos sacrossantos  dias de 23 de Março de 1978”.   
Irmão de Caridade Couto. Sempre bem humorado, morou no Edifício Carimbamba, em frente à belíssima praia de Armação. O Edifício Carimbamba (hoje demolido) era um edifício localizado na então distante praia de Armação, que um parente comprou para servir de “Garçoniere”.  Fernando foi lá morar, juntamente com a esposa Ida Catarina Gomes Spínola, melhor Cata.
Em breve todo o Edifício estava ocupado, legal ou ilegalmente, por “uma ruma” de pessoas das mais diferentes profissões, formações, etnias e sexualidades. 
De professor desempregado a Travesti. De artista plástico a prostitutas. Todos convivendo harmonicamente. Ocasionalmente ocorria algum entrevero, comum em pessoas convivendo em grande número, em espaço tão restrito, raramente necessitando de intervenção policial.Certa feita Fernando nos convidou para uma feijoada que Cata havia feito:
- Sávio venha almoçar com a gente. Cata fez uma feijoada da pôrra. Tem de tudo, pé de porco, pé de pica... Com estes ingredientes, a feijoada graças a Deus, não saiu.
Mas a Caranguejada saiu!  
Quando chegamos ao Carimbamba, Cata estava com os pés pra cima do sofá e Fernando com uma vassoura, tentava jogar os caranguejos dentro de uma panela. A corda arrebentou e os caranguejos espalharam-se pela sala. 

O Carimbamba, após um aguaceiro, foi condenado pela prefeitura, pois ameaçava desabar.
Fernando ironicamente (iriam morar aonde?) escreveu em uma tabuleta e fixou-a na entrada do prédio.

Oh! Carimbamba retado. 
Sua fama jamais duvidei.
Mora puta, sacana e viado,
E um monte de côrno encontrei.

Um morador pediu que tirasse a placa, alegando que não era corno. Fernando, pacientemente, explicou:  
- Não estou dizendo que o Senhor é côrno. Estou dizendo que aí tem muitos côrnos. Tem ou não tem? 
- É o que mais tem! 
- Então deixa minha placa onde está.
Como ninguém mais protestou, e como o Carimbamba resistia bravamente, ele fixou a segunda placa.
Mais uma vez, o prenúncio falhou 
E a “pôrra” do prédio não cai.                                                                                                                                                     E assim este amigo ficou, 
Nas “transas “ do entre e sai. 

De outra feita faltou luz apenas no prédio. Fernando foi ao quadro de luz tentar encontrar o defeito.
Deixou escrito na porta do quadro o porque de sua desistência: 
Nunca vi, tanto “gato” 
Em tamanho “ninho de rato”. 

Fernando foi obrigado a fazer um curso antes de se casar, chamado Curso de Noivos. Lá um dos professores explicou que:  
- “Se você acha que a moça bonitinha com quem você vai se casar vai ficar sempre assim, mesmo daqui a trinta anos, olhe para a mãe dela hoje. Daqui a trinta anos ela vai estar igualzinha a mãe”. 
-  Sávio, quase que eu me levanto e vou embora. Mas foi amor a primeira vista. Se eu olhasse pela segunda vez, não casava.

Fernando morreu de Leptospirose. Sugeri a sua esposa que fizesse uma lápide de granito negro, com letras de bronze:
"Aqui jaz um putanheiro, 
contra a vontade.
Apressado, foi primeiro,
Mas deixou muita saudade".

E como deixou.   
   
                                                                               
                                                                                                      Sávio Drummond
     Salvador, 14 de Agosto de 2011.

sábado, 10 de setembro de 2011

CÉU E INFERNO

Um homem muito bom morreu, e foi pro céu.
Qual sua surpresa ao ver que tudo aquilo que aprendeu em casa, e depois no Colégio dos Padres era verdade.
Campinas verdejantes, muitos animais soltos pastando, cachorro brincando com gato, gato com rato, e pássaros em revoada ou em frondosas arvores.
Riachos de águas cristalinas deixavam ver um fundo com pedras de seixo. Um perfume e suave música preenchiam o ar.
Brilhante Sol tudo iluminava sem queimar a pele. As cores eram vivas e indescritíveis, pois com seu limitado vocabulário terrestre, nunca conseguiria descrevê-las. 

Quando vivo, por força da profissão, vira o Sol nascer muitas vezes, e o hábito “o acompanhara”. Levantava-se antes do Sol, e uma orquestra de pássaros anunciava a chegada do dia. O Sol começava a tingir o céu e as nuvens de rubros e dourados. Quadro que nem os grandes Mestres sequer sonharam em pintar. 
Veneráveis anciãos passeavam, enquanto transmitiam sábios ensinamentos aos mais jovens ou recém chegados. 
Todos vestiam longas túnicas de cores claras, e com o tempo percebeu que as cores correspondiam ao grau de elevação espiritual de cada um. Homens e mulheres, algumas belíssimas, tinham a libido diminuída pela semelhança nos trajes, igual para todos, e que escondiam as formas femininas. Todos eram irmãos. 
Com surpresa reconheceu Dona Estelita, negra retinta, analfabeta que lavava roupa para sua mãe, com alvinitente túnica.
Lá as pessoas valiam pelo que eram e não pelo que tinham. Descobriu que as maiores riquezas, são aquelas que acumulamos no céu.  
Estranhamente percebeu que continuava sentindo fome, sono, cansaço, e todas as necessidades fisiológicas.
Dona Estelita lhe explicou que não era pelo fato de ter morrido, que as obrigações corporais passariam. Isto viria com o tempo, à medida que cada pessoa evoluísse espiritualmente.
Periodicamente Dona Estelita chefiando um grupo, fazia visita às pessoas queridas, que continuavam no “dia a dia”. Com profunda tristeza viu parentes e amigos, repetirem os mesmos erros que fez durante toda a vida. E não podia fazer nada... No retorno a saudade doía como uma “ferida braba”. 
Aos poucos foi se acostumando à rotina do lugar. Ele que tinha sido médico, percebeu que seu conhecimento mal dava para atender aos necessitados. Trabalhava como enfermeiro em um hospital que assistia aos que chegavam, pois raros eram aqueles que não precisavam de socorro médico. Acima de tudo era uma lição de humildade. 

Notou que seu companheiro de quarto, pelo menos uma vez por semana, não dormia no alojamento, e que antes do amanhecer entrava pela janela que pedia para deixar destrancada. Com o passar do tempo começou a olhar as “irmãzinhas” com olhos nada fraternos. Quando essa ou aquela morena passava, acompanhava seu andar e imaginava belo corpo rebolando por baixo daquele “camisolão horrível”!
  
Certo amanhecer esperou o colega pular a janela e o obrigou a contar o motivo das suas ausências e seu cansaço diurno nesses dias. 
O malandro explicou que periodicamente, quando todos se recolhiam, dava uma fugidinha e ia até o Inferno, pois lá tinha bacanal toda a noite. E tinha cada diabete de “parar o trânsito”. 
O único problema era voltar antes que o porteiro levantasse para fazer a “contagem matinal”. Por isso chegava antes do nascer do sol e pulava a janela.
- Na próxima você vai ter que me levar! 
- De jeito nenhum. É muito perigoso. Só pra um “macaco velho” como eu! 
- Então vou contar tudo ao porteiro e adeus “mamata”.
    
Na primeira oportunidade foram, e não podiam ter escolhido um dia melhor. 
Estava acontecendo um baile de Carnaval, de meter inveja ao do Municipal, nos seus melhores dias.
Abastecidos com Viagra vendido por um muambeiro paraguaio, passaram “o roldo” em todas, e acabaram perdendo a hora, chegando já de dia.
Foram recebidos por São Pedro em pessoa.  Ante a porta, com enorme barba e a careca brilhando sob o Sol nascente, o ancião agitava as chaves e esbravejava: 
- Voltem de onde vieram, pois lá é que são seus lugares.
Cabisbaixos retiram-se, quando o chegado recentemente pergunta: 
- E agora o que faremos? 
- Continue andando, e com cara de triste, pois “o home” ta olhando. Vamos dar a volta, pois o porteiro do fundo é “lá da terrinha”, e é ele que me deixa sair e entrar nas farras.                                                                 

                                                                 
                                                                                                                                         Sávio Drummond                                                                                               Salvador, 01 de Agosto de 2011.

sábado, 3 de setembro de 2011

SÓ OS FEIOS AMAM PERFEITAMENTE


Moravam na mesma rua, e só andavam juntos. Toda a rua “fazia gosto” em um namoro entre os dois, que por fim aconteceu. Ele formou-se em Artes Plásticas e ela em História.  Casaram-se e foram morar perto dos pais. O amor do casal emocionava toda a rua, que continuava acompanhando o romance.
Como pintor e escultor não ganhava nada. As “despesas da casa” eram pagas por ela, e as refeições feitas nas casas dos pais, o que ajudava a “irem levando”.
Recordou-se de Vincent Van Gogh, que quando vivo só vendeu um quadro, que foi comprado por seu irmão Theo, em nome de terceiros. O gênio Holandês morreu sem saber.
Para conseguir ganhar “algum”, tornou-se Funcionário Público. Lembrou-se de Carlos Drummond de Andrade que trabalhou até aposentar-se no Ministério da Educação. Na repartição sentia-se “emparedado” e frequentemente fazia esboços de futuros  quadros, atrasando seu monótono e enfadonho trabalho. 
Seu pensamento voava para lugares que só ele conhecia, e estava cada vez mais “avoado”, pego por diversas vezes falando sozinho.
Manoel Bandeira, em sua poesia Poética, dizia o que ele pensava a respeito: devido aos baixos salários é que muitos funcionários públicos tem mais de um emprego. Deixam o paletó na cadeira, enquanto vai para outro emprego. Quando procurado, seu colega diz:
- “Ele está na casa, olhe o paletó dele aí”.  
Maus Funcionários Públicos fizeram generalizar  o mito de que todo Funcionário Público é corrupto, ao cobrarem propina para fazer o trabalho que é sua obrigação. O PF (por fora) vulgarizou-se manchando o nome dos bons funcionários. Um colega seu aconselhou: 
- Você tem que fazer artesanato e vender no Mercado Modelo. Arte só para “atender” ao seu coração. Ninguém, por mais que goste, vai deixar de comer para comprar um quadro seu.
O primeiro natal que passaram juntos, ela comprou pincéis e tinta, e ele vendeu o material de pintura que tinha para lhe dar de presente um livro de História. História do folclore Afro-Baiano. O presente para ele não serviu, pois não tinha mais nenhuma tela, e ela ensinava História Geral e não História Folclórica. Parecia um conto de O’Henri. 
A massacrante rotina começou a “minar” o casamento, fazendo com que pequenos defeitos de ambos, antes sequer observados adquirissem proporções gigantescas.  A tolerância e a renúncia, únicas armam para se manter uma convivência, já não funcionava.
Resolveram separar-se antes que começassem a odiar-se, e voltaram a morar com os pais e a namorar como antigamente. O “dia a dia” vencera. 

Ao comprar um quadro encontrei escrito atrás: 
 "Só os feios amam perfeitamente.
Esquivos e transparentes, 
Amam em sonhos, como devem amar os anjos.
E não há forma mais perfeita de amar."

O autor do quadro provavelmente escrevera estes versos, com os quais concordo plenamente.
Amor perfeito só o platônico. Os feios, ou seja, aqueles que não se aproximam das mulheres, amam-nas em sonho, como devem amar os anjos. Só os feios amam perfeitamente. 


Salvador, 04 de Junho de 2011
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Sávio Drummond