No interior do
Recôncavo, protegido dos fortes ventos e ondas do Atlântico, fica a vila de São
Tomé de Paripe.
No alto do mais elevado dos morros, fica a Igreja de São Tomé,
construída pelos padres e índios, em 1627, e antigo cemitério ao lado.
Como as pessoas eram frequentemente enterradas enroladas em rede (costume
indígena), e em covas rasas, as chuvaradas acabavam expondo os ossos. Espetáculo belo
e tétrico: brancos crânios e ossos longos como fêmures, tíbias e úmeros,
brilhavam ao sol.
São Tomé era antiga
aldeia de índios Tupinambás, à beira mar, cujo chefe indígena Paripe, tinha a
aldeia principal, na localidade atual de mesmo nome, há 6 Km de distância.
Todo o abastecimento da localidade era feita pelos saveiros, embarcação
indiana, trazida para a Bahia de 1530 a 1560.
Esta
embarcação chegou a um número de 2000, nas lutas de independência que culminaram com a
expulsão das tropas do general Madeira de Melo, aqui e em Itaparica aquarteladas,
em 2 de Julho de 1823.
Todo
o comércio da cidade, recôncavo, até Cachoeira e São Felix era realizado pelos
Saveiros, que “entravam” pelo Rio Paraguaçu.
Seus
porões transportavam desde cimento, tijolos, areia para a construção das
antigas mansões, a sacos de feijão, arroz, farinha, carne salgada (charque). Com a maré cheia,
os saveiros paravam nas rampas, que é a forma mais fácil para transportar pesos
(os sacos).
Lá só existe uma escadinha, muito apreciada pelos namorados.
Em
São Tomé ficava a venda de Seu Cesáreo, espanhol já idoso, que passava o dia atrás do balcão,
com camisa de meia e lápis atrás da orelha.
No fundo, na
parede, uma tabuleta que dizia: “ Fiado só para maiores de noventa acompanhado
dos pais”.
Em antigo balcão, seu Cesáreo pesava em precisa Balança Filizola, o
popular “agrado”, para as freguesas preferenciais, como minha mãe, que tinham
até caderneta, onde as compras diárias eram anotadas e pagas no fim de semana.
Toda meia noite saía a fornada de pães na padaria atrás da venda.
Comprávamos
esse pão, que derretia a manteiga nele colocada e que tomávamos com café com
leite. Nossa ceia, antes de dormir.
Diariamente, um garoto saía às 7 e às 5 da tarde, com enorme balaio na
cabeça, vendendo o pão de Seu Cesáreo.
-
Olha o pão!
E São Tomé
inteiro comprava o pão de Seu Cesáreo para o café e jantar.
Certo dia o garoto mercava
e ninguém queria comprar o pão para o jantar.
- Olha o pão!
E
nada, o que exasperou o garoto.
- Olha o pão, porra!
Deram queixa a Seu Cesáreo, que
demitiu o garoto.
Salvador, 04 de Maio de 2013
Sávio Drummond
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