quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O IMPONDERÁVEL DA SILVA


Se não me falha a memória (na minha idade tudo falha), foi uma expressão criada pelo saudoso comentarista esportivo João Saldanha.
Termos como Geraldinos (Torcedores da Geral), Arquibaldos (Torcedores da Arquibancada), Testemunhas para um jogo com poucos espectadores (o jogo não tem expectadores, tem testemunhas), também foram criados por ele.Feras do Saldanha e outras “pérolas” também foram criações suas.
Em plena Ditadura Militar, quando perguntado se escalaria Dario (do Atlético Mineiro), como gostaria o Presidente General Médici, respondeu: 
-“Eu não escalo o Ministério dele, portanto não aceito que ele escale meu time”.
Foi demitido e colocaram Zagalo, que convocou Dario imediatamente. 
O Futebol com seus resultados frequentemente inesperados, a tão antiga e usada “caixinha de surpresa” (O que será isso? Você já conheceu alguma?), é uma verdadeira fábrica de superstições, o que levou o próprio João Saldanha a dizer; “ Se mandinga valesse, campeonato baiano terminaria empatado”! O “Imponderável da Silva” acompanha-me desde cedo.
Aos 12 anos estava deitado procurando dormir, quando “alguém” sentou-se às minhas costas. O barulho das molas do colchão, o peso de quem se sentou fez o meu corpo inclinar-se para seu lado. Devia ser meu irmão que gostava de me dar sustos. Virei-me rapidamente por baixo do corpo, para surpreendê-lo e lhe dar o susto que achava que ele queria me pregar.Para surpresa minha não tinha ninguém!
Aos 14 anos, fiz com um cano de ferro uma “garrucha”. Amassei uma das extremidades e curvei-a como o cabo de uma arma. Coloquei pólvora de 5 bombas médias,de São João, e fiz o que não deveria ter feito: Soquei-a. 
Coloquei a “cabeça” de um fósforo em um orifício que fiz com uma furadeira e risquei-o, apontando para a parede do prédio vizinho.Inexplicavelmente  a chama tremulou e apagou como se alguém soprasse, embora não sentisse vento algum.Tão confiante estava, que repeti o procedimento.Alguém então gritou em meu ouvido:- Corra!
Coloquei a “garrucha” sobre o peitoril e movido por um “terror” que de mim se apoderou, fugi, pulando a cama de meu irmão, e quando pulava a minha o artefato detonou.
Um pedaço ficou sobre a janela, outro arrancou um pedaço do reboco do teto, outro da parede vizinha e outro me acertou as costas enquanto fugia.Tenho a cicatriz até hoje. 
Meu “anjo da guarda” poupou-me a mão.Quando tinha dez anos de formado, silenciosamente orgulhava-me de nunca ter “perdido” um doente com Edema Agudo de Pulmão.Em doze anos, dez de formado, mais dois de atendimento em Postos de Emergências como interno e nenhum doente dessa fatal situação morrera em “minhas mãos”.
Até o dia que contei a um colega sobre o fato.Nesta semana dois doentes que atendi, morreram de Edema Agudo.
Foi como se Deus me dissesse: “Não morreu porque eu não quis! Mais humildade filho, mais humildade”!                                                                                             



Salvador, 09 de Novembro de 2012.
Sávio Drummond.

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