quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O BÊBADO E O EQUILIBRISTA


O alcoólatra sempre teve sua imagem associada à fraqueza.
Incapaz de controlar seu vício, o alcoólatra normalmente sucumbe à chamada Síndrome de Abstinência, quando tenta parar de beber.
Abstinência é definida como a renúncia voluntária ou não, à satisfação de um desejo ou necessidade, e quando a abstinência é de uma substância química, a sua supressão aguda acarreta um conjunto de alterações físicas e mentais, no dependente químico ou viciado, chamado de Síndrome de Abstinência.
Tive oportunidade de ver alguns casos.
Em uma formatura de Direito, um senhor, que trazia na face os estigmas do alcoólatra, afastou-se e procurou ficar fora do ambiente repleto.
Chamava à atenção a sudorese, sempre presente nesses casos. Fui até ele, identifiquei-me e procurei auxiliá-lo. Estava ofegante, com sudorese abundante e tremores.
Pra quem já passou por situação semelhante, ou teve familiares dependentes químicos, sabe como é cruel depender de qualquer substância.
É praticamente impossível largar o vício sem ajuda. Às vezes é necessária a internação hospitalar.
Mas a pior Síndrome de Abstinência é vista nos recém nascidos, filho de mulheres que usaram drogas ou bebidas alcoólicas, regularmente, na gravidez.
A substância passa pelo cordão umbilical, durante a vida intra-uterina para a criança, e ao nascer, por não contar mais com a substância, que “já faz parte” da composição do seu sangue, o recém nato, geralmente de baixo peso, desenvolve a síndrome, que consiste em irritabilidade, hipertonia muscular, choro insistente e até convulsões. 
Os trabalhos da Neurofarmacologista Jandira Mansur mostram que o alcoólatra é vítima do seu próprio cérebro e de fraco não tem nada. Na ligação entre os neurônios, chamada Sinapse, substâncias químicas denominadas Neurotransmissores (Acetilcolina, Dopamina, Adrenalina, Noradrenalina, Serotonina, etc...) são liberadas e, responsáveis pela transmissão do impulso elétrico entre as células do cérebro.A sensação de fome, sede, cansaço, paixão, excitação sexual, medo, etc,  são por elas reguladas.
Até mesmo o amor, foi reduzido à simples transmissão elétrica... 
No cérebro do alcoólatra, essas substâncias existem em proporções diferentes da população tida como normal.Dez por cento da humanidade tem “cérebros propensos” à dependência química. Os outros são na verdade “equilibristas”, que andam sobre a “corda bamba “da normalidade.
E o que é normal ou não? Certo ou errado? O que é certo para uns é errado para outros.
Nas sociedades islâmicas o certo é ter quatro esposas. Na nossa seria poligamia.
O trabalho feminino em determinadas culturas é proibido, e considerado infidelidade, pois a esposa só pode trabalhar em casa e para o esposo.
Em determinadas culturas islâmicas as mulheres cobrem-se da “cabeça aos pés”, pois só os maridos podem lhes ver o corpo. Os cabelos são considerados “instrumentos de sedução” e as islâmicas sempre os escondem com véus.
O que é bom para determinada pessoa em certo momento de sua vida, é para essa mesma pessoa, prejudicial em momento diferente.
Engatinhar foi necessário ao homem. Graças a ele a lordose lombar e cervical, (curvaturas da coluna) foram formadas, e o andar foi atingido em fase posterior. Para um adulto, engatinhar além de ridículo causará artroses diversas e hérnias de disco.
Não seriam, os ditos normais, também dependentes?
Não dependem muitos deles, do dinheiro, sucesso, trabalho, sexo, fama, poder?
Por isso, quando vires um bêbado, não o tenha “na conta” de um vagabundo e fraco.
Ele é vitima do seu próprio cérebro e do nosso preconceito. Quanto a você... Não vá cair da corda!

Salvador, 12 de Julho de 2012
Sávio Drummond.

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