quarta-feira, 11 de julho de 2012

O VENTO


Um dos personagens, mais “perturbados” que conheci, foi o vento. 
Aventureiro, conhece o mundo inteiro, pois já deu várias voltas ao globo.
Prestativo, seca as roupas do varal, refresca-nos, agita as folhas das árvores e a palha dos coqueiros, dando-nos poesia de graça.
Da Grécia antiga o Deus Éolo soprando forte, esfuma as velas dos saveiros, levando-os a lugares que só atingimos com o pensamento. Continentes foram descobertos, pelo Homem dito civilizado, graças à força de seu sopro, ao movimentar as Caravelas.
Ele também movia às pás dos Moinhos de Vento, que deram lugar as atuais hélices de altas torres, para geração de energia elétrica.
O Homem muito deve ao vento. Graças a ele, empinava as arraias (pipa, papagaio) quando criança, e era horrível quando ele as levava para diante do Sol. Não dava para ver nada!
À noite, soprando nas frestas da janela, parecia um lamento e muitas vezes me roubava o sono.
Ousado e brincalhão, levanta as saias das mulheres, provocando gritos de susto, e as corando de vergonha. Um devasso esse vento, um horror! 
Ele também “empurra “as nuvens, no azul do céu, e assim participa da obra-prima que Deus nos dá de graça, todo entardecer e amanhecer, quadro que nem os Grandes Mestres sonharam em pintar, e ninguém repara...
O vento traquino, “dando uma” de poeta, também agitou os cabelos negros de minha primeira namorada, e fez com que um perfume de sândalo me embriagasse. Obrigado amigo! 
Quando adolescente, costumava ficar juntamente com um grupo de desocupados, no calçadão do Edifício Sulacap, esquina da Ladeira de São Bento com a Avenida Sete. Ante nossos olhos a Praça Castro Alves, o monumento onde no alto o Poeta dos Escravos, com a mão direita em riste, declama seus versos, o mar azul da Cidade da Bahia e o cinza do perfil das ilhas, do outro lado da baía.
Todo dia, as 17:00 hs, no verão, o vento, “saído do nada” levantava as saias das moças, que costumavam ir com as mães assistirem a missa das cinco na Igreja de São Bento.
Era moda na época, uma saia rodada, chamada Balão, que muito facilitava o trabalho do depravado. Ficávamos apostando cigarro, para ver quem acertava a cor das calcinhas das moças.
Preta e branca eram as preferidas, e um colega nosso, alto, magro com óculos fundo de garrafa, que não errava nunca, acertou certa tarde a improvável cor de uma; Amarela!
Apelidaram-no, a partir desta data de Calçolão!
Certa feita uma moça passou, acompanhada da mãe e o vento devasso, “rápido como quem rouba”, levantou sua saia até o pescoço.
Para surpresa nossa a coitada, que devia estar com algum problema de alergia, estava sem calcinha e depilada! Calçolão não “perdeu tempo”, e exclamou:
- Essa eu não acertaria nunca. Mas, parabéns moça, passou no vestibular!
Até o poeta, no alto do seu “modorrento” pedestal, arriscou uma olhadela de “canto de olho”.
Isso aconteceu há 40 anos, e outro dia vi um humorista contar na televisão, como piada!
Mas é verdade. Calçolão está de prova, e eu estava lá. Juro!

Salvador, 16 de maio de 2012                                                                                                                                                                                            Sávio Drummond.

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