Devia ter sentido mais
a chuva em meu rosto. Tê-la buscado e não ter sido surpreendido por ela. Mas
tinha medo de pegar um resfriado.
Devia ter visto mais o Sol nascer na boemia. Mas ele sempre me encontrou
estudando ou trabalhando.
Devia ter sentido mais o cheiro das coisas. O mundo é cheiroso. A vida é
cheirosa, mas só percebi isso quando pouco olfato me restava.
Devia ter beijado mais. A meus pais, a minha esposa, meu irmão, minha
filha, meus amigos. Mas estava sempre ocupado. Agora sinto falta dos beijos que
não dei.
Devia ter ouvido mais. O mundo vibra em uma frequência harmoniosa como em
uma sinfonia Divina. Mas o barulho do trabalho me roubou parte da audição. Hoje
até o silêncio parece-me cobrar as notas roubadas.
Devia ter
sido mais ocioso. Na ociosidade produz-se mais do que pensamos. Mas estava
sempre atarefado para perceber isso. Devia ter visto mais. As coisas mais lindas são invisíveis para nós, que
nos acostumamos a olhar, não a ver.
Devia ter tido mais Domingos. Minha semana sempre teve mais dias que a
normal, e nenhum deles era feriado.
Devia ter
viajado mais, conhecido mais pessoas e lugares. Há sempre gente e locais para
conhecer. Mas estava sempre preocupado em chegar.
Devia
ter sido menos ansioso. Pois a vida está sempre “vindo”, e saber esperar é uma
arte.
Devia ter esperado menos dos outros. Cada um dá daquilo que tem. E muitos têm muito pouco pra dar.
Devia
ter perdoado mais. Hoje tenho tanto perdão a pedir.
Devia ter me arriscado mais. Viver é
coisa arriscada, e sempre tive medo de arriscar, com medo de perder.
Devia
ter sido menos ambicioso. As coisas realmente importantes, como a amizade, os
afetos, e o bem, nos são dadas de graça, mas estive sempre preocupado com o
preço das coisas.
Devia
ter sido mais verdadeiro. As grandes verdades são ditas de formas simples. Olhe
as crianças. Elas falam o que lhes vem ao coração.
Devia
ter comido menos sal e açúcar. Sempre adocei ou salguei muito as coisas, em
busca de um sabor que acabei escondendo pelo excesso.Devia ter encarado a
vida de frente. De nada adiantou “dopar-me”, com falsos calmantes, que apenas “me
esconderam” a verdade.
Devia ter me preocupado
menos. A cada dia “basta o seu mal”.
Devia ter sido mais curioso. Tudo no mundo” tem um por quê”. Deixei de
aprender muita coisa.
Devia ter sido menos orgulhoso. A vaidade nada me acrescentou.
Devia ter feito mais serenatas. As
janelas das moças ficaram fechadas para meu canto.
Devia ter aprendido a tocar um instrumento. A música nos aproxima dos
anjos.
Devia ter apreciado mais o luar e o por do
Sol. São lindos e Deus não cobra nada por eles.
Devia ter aprendido
inglês. Os livros seriam menos misteriosos.
Devia ter aprendido a orar.
Através da oração falamos com Deus.
Devia ter mais “cicatrizes”. A
pele imaculada mostra apenas uma vida enfadonha.
Devia ter sido uma pessoa melhor. A sensação
de “dever não cumprido”, me esmaga.
Devia
ter aprendido mais. Vou ter que repetir de ano.
Salvador,
26 de Junho de 2012.
Sávio
Drummond.
Legal Sávio. Gostei muito. beijo.
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