quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O MOTELEIRO

Outro dia encontrei o Ferreira, melhor Ferreirinha como gosta de ser chamado. Meu colega da faculdade. Havia mais de 20 anos que não o via. Entre chopes e batatas fritas, colocou-me “a par “das suas aventuras.“aventuras”.
Falou-me que se separara, havia alguns anos, e depois de um período de depressão, pois não é fácil acabar com um casamento de 15 anos, resolveu “sacudir a poeira” e aproveitar a “liberdade”.
Começou dizendo que casamento é o único lugar onde você ganha a liberdade por mau comportamento, e à medida que os “vapores do álcool” subiam, Ferreirinha tornava-se mais alegre e falador.
Ao contrário “do bebum chato” que diz; “Você não é meu amigo”, Ferreirinha tornava-se mais alegre e comunicativo. Disse-me que conhecia todos os motéis da cidade, e que estava “solto na buraqueira”.
Certo dia, em certo motel, enquanto estava na banheira de hidromassagem, sentiu extra-sístoles em salva.”Vira e mexe” e novamente brbrbrrrrrrrrrrrr....Das extra-sístoles para o flater e do flater para fibrilação, que significa parada cardíaca, pois o coração não consegue impulsionar o sangue, é “um pulo”, você sabe.
Aí eu pensei: Já que eu vou morrer, nada melhor do que morrer nos braços dessa bela morena que me acompanha no banho. Vira e mexe, literalmente, e o brbrbrrrrrrrrrrr.... comecei a tomar meu pulso e notei que quando o brbrbrrrrrrrrr... ocorria, meu coração continuava dentro do ritmo. O que estava acontecendo?
Era o jato de água que a depender da posição batia no meu peito, exatamente na ponta do coração, que alívio! De outra vez... Garçom, mais dois chopes! Entre o 1º e o 2º tempo, depois de tomar banho, desci enrolado na tolha, para pegar a escova que estava no carro, , no térreo. Quando eu voltava com a escova, percebi que o vento batera a porta.
Gritei pela “criatura” até não poder mais.
Vá ver que aquela “quenga”, está com o rádio ligado a toda a altura, pensava, quando me ocorreu a solução. Só se eu fosse até a portaria, e lá pedisse que “interfonassem” para o quarto e solicitasse a “sujeita” que viesse abrir a porta. Mais como vencer os mais de 100 m que me separavam do “telefone salvador”?
Só havia um jeito, correr até lá. E assim o fiz.
Imagine a cena, eu com este físico atlético, enrolado em uma toalha, no maior “pique”, debaixo de um sol escaldante, com as pedras do calçamento a fritar-me as solas dos pés.
A recepcionista da portaria tomou o maior susto quando a chamei e pedi que fizesse a ligação.  Graças a Deus nenhuma porta de garagem se abriu, nem casal algum viu a minha correria.
Na ida, por que na volta , outro moteleiro que chegava, acompanhou-me  e entre risos, do carro exclamou:
                                                                                                                                                                                                                   - Fazendo seu Cooperzinho, hein?

De outra feita foi quando o carro, “não deu sinal de vida”, na hora de ir embora.Tive que ligar para meu mecânico, que teve que fazer o conserto na garagem do motel. Mas nada se compara ao “maior mico que paguei”, quando passei mal ao tomar um comprimido para “disfunção erétil”. Tive que chamar a ambulância do meu plano de saúde, que atende em domicílio. O motel inteiro “parou” para me ver entrar na ambulância, com minha assustada acompanhante, e os para-médicos botarem oxigênio no meu nariz. 
Antes de fecharem a porta, um engraçadinho gritou: 

- Tá vendo coroa, “ta” pensando “que beiço de jegue é arroz doce”? Não aguentou com a gata...                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 

                                                                                                             
 Salvador, 12 de Setembro de 2011.
Sávio Drummond.

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