quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O AVOADO


Termo muito utilizado em Salvador, que quer dizer distraído. Aquele que “avoa”.
Quando criança e adolescente, tinha uma memória privilegiada.
No Salesiano, havia um “pequeno vestibular”, para que o aluno da 5º série, também chamado Admissão, pudesse ingressar no Ginásio. Português, Matemática, Geografia, História Geral e Ciências Naturais eram as matérias.
Por detestar Matemática, decorei os 250 problemas, (pois os problemas de Matemática eram os do livro adotado no curso), que meu pai resolvera para mim.
Ao respondê-los, sabia até em que pagina do caderno que “enchi” com eles, estava.
Anos depois, ao ensinar meu primo para um concurso, voltei a estudá-la, e a enxerguei com “outros olhos”. É a única ciência exata, e infalível. “Tijolo do Universo”, graças a ela Einstein e outros gênios da Física,como Pitágoras, Galileu Galilei, Carl Sagan, Isaac Newton e Stephen Hawking, decodificaram o Universo e teorias, ainda não comprovadas, foram lançadas.Ela é a “Linguagem Universal”, e no dia em que estabelecermos contato com civilizações extraterrestres, à comunicação será feita através da Matemática, pois 1 + 1 é igual a 2, aqui, em Alfa Centauro, Sírius ou Aldebaran.
Aliada a memória, a distração, o “avoamento”, me pregou “inúmeras peças”.
Quando adolescente, saí de casa só para colocar uma carta no Correio. Quando lá cheguei, “cadê” a carta? Tinha-a deixado em casa!
Quando morava em São Tomé de Paripe, ia para o trabalho em meu carro. Um Fiat 147, que diziam que o nome Fiat, na verdade são as inicias de Fui Iludido Agora é Tarde. Era uma empresa no Pólo Petroquímico, em Camaçari.
Certa feita voltei no ônibus da Empresa e quando cheguei, “cadê” meu carro que deixava debaixo do tamarineiro, em frente lá de casa? Já estava na delegacia de Peri-Perí, para registrar “o furto”, quando descobri as chaves  no bolso. Tinha esquecido que deixara o carro no estacionamento da Empresa.
Quando de certo curso que fiz em um hotel, ao voltar para o quarto, “morto” de cansaço, deitei-me com a intenção de descansar um pouco antes de ir dormir. Acordei com forte luz no rosto e dois seguranças apontando armas para mim. Tinha entrado no quarto vizinho, que coincidentemente estava aberto, pois não reparei o número na porta.
Data de aniversário, nem falar. Mas imperdoável mesmo é esquecer a data de casamento... Quando foi mesmo?
Mas o maior esquecimento foi quando levei minha esposa, no último mês de gestação para realizar a Ultrassonografia que o médico assistente solicitou. O resultado saiu de imediato, e já estava no hall do edifício, quando o porteiro me identificou e disse que o médico que a realizou estava me chamando de volta.                                                                    Preocupado retornei, quando ele me tranquilizou:- Você esqueceu a “mulé”! 
“Homenageando” meu esquecimento fiz uma poesia que em um dos versos diz:

Tenho tonturas.
Talvez sejam da idade.
A cabeça nas alturas, sem a identidade
Do caminho em que vago,
Vira latas da vida, que não me fez afago.

Hoje sou capaz de me perder dentro de casa, sempre fui um “desbussolado”, e só sei se já comi ou não, se o “estomago roncar”.      O tempo é cruel...  
                                                                                           Salvador, 24 de Julho de 2012. 
Sávio Drummond.

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