Fim
de tarde de sábado. Dirije-se à barraca de praia perto de sua casa a fim de
“curtir” a hora mais agradável do dia. Nela, a luz é ainda suficiente para
destacar cores e contrastes sem arder na pele. Lá chegando, procura
uma mesa, enquanto o vulto atarefado e grisalho do proprietário acena-lhe num
cumprimento cordial.
É uma tarde magnífica e começa
a imaginar como seriam estas praias na época do descobrimento.
Com o pensamento
viajando, chega a ver algumas caravelas de panos esfumados que se aproximam,
quando dois vultos saídos do mar tiram-no desses devaneios.
São duas belas jovens
que vem em sua direção. A morena então é perfeita, com suas curvas mal cobertas
por sumário biquíni, chama a atenção dos poucos presentes. Com
ares indiferentes, próprios das mulheres acostumadas com os olhares mais
ardentes, sentam-se na mesa em frente à sua. A morena de costas para ele e de
frente ao mar. Sua acompanhante em posição inversa.
A
pele morena tem uma tonalidade acobreada pelo sol de muitas praias. A cabeleira
cacheada chega-lhe à cintura com o peso d’água e esta, escorrendo em milhares
de gotinhas, brilham ao sol poente, definindo-lhe os contornos como mágico
neon. Fina penugem dourada arrepia-se ao frio do fim da tarde.
Lembra-se do ditado; “Se Deus fez algo melhor que a mulher, guardou pra
Ele”. Discorda. Naquele momento têm a certeza que o Criador, num profundo
gesto de amor à sua imagem e semelhança, deu-a para nós, míseros homens...
Viajando
mais uma vez, não percebe que está com uma cara ridícula, com o olhar devorando
o vulto moreno á sua frente, boquiaberto, sedento.
A mímica de sua
acompanhante chama-lhe a atenção. Mostra certamente à jovem que conquistara
mais um admirador. Dissimuladamente, como se procurasse
qualquer coisa, em qualquer lugar, olha para os lados e finalmente, por
cima do ombro, para ele.
E se não bastasse tudo aquilo a danada ainda tem os olhos claros! Subitamente formam-se em seu pensamento uns versinhos, daqueles que já
vem prontos, sem direito a corrigir vírgula ou ponto. E no tampo da mesa
deixa-os:
Menina
dos olhos d’água,
Olha
um pouquinho pra mim.
Mata
esta sede morena,
Que dói como coisa ruim.
Das
muitas mortes malvada,
De
uma sempre temi.
Morrer de morte
jurada,
Por
teus olhos, fugindo de mim.
Velho Sávio, boas lembranças dos fins de tarde naquela barraca, do proprietário amigo, metódico e grisalho, do som do entardecer (era sempre Marisa Monte ou Lúcio Alves e Dick Farney; o Paroano abria as manhãs). Lembranças das belas morenas ... Naquele dia eu vaiei também!
ResponderExcluirAbraço, Luiz Flávio