Marianinha era inocente, como só as crianças hão de ser. Sim, pois basta arredondar-se- lhes as formas ou apontar-se lhes o buço, perdem-na como à noite as estrelas, aos primeiros sinais da manhã.
Pouco mais de dez anos e os hormônios a imprimir-lhe mudanças no corpo infantil, sem preparar-lha a cabeça.
Em casa começaram as proibições:
- Vai vestir a blusa menina. Onde já se viu uma moça andando pelada pela casa?
- Marianinha que modos são esses? Você já é uma mocinha!
Menina, moça, mocinha... Afinal se nem os adultos se decidiam sobre o que ela era.
E por que tanta preocupação, se até pouco tempo ninguém ligava?
Com os amiguinhos da mesma idade, volta e meia tinha que responder perguntas e mostrar as transformações que seu corpo sofria. Encarava com naturalidade a curiosidade dos coleguinhas, pois, quem mais que ela, a surpreender-se com essas mudanças?
Um de seus colegas ao chegar das férias, espanta-se com tão grande diferença, e exige seus direitos de amigo predileto:
- Você vai ter que me mostrar.
- Mostrar o quê?
- Os peitinhos. Você mostrou a turma toda, menos eu.
- Mostrei, mas agora só mostro as meninas.
- Por que só as meninas?
- Por que os meninos são abusados.
- Mas você mostrou ao Cacau, ao Binho e ao Bujão. Só eu seu melhor amigo, não vi.
E foram tanto os argumentos que Marianinha resolveu satisfazer o desejo do amiguinho injustiçado.
Tá certo Tato, eu te mostro. Mas não vale fazer fonfom!
Salvador, 20 de Agosto de 1994.
Sávio Drummond.
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