Tive
um conhecido, belga de nascimento, baiano de coração, que não sei por que cargas d’água, deu com os costados em Salvador, e apaixonou-se por uma
autêntica crioula baiana e, com ela se casou.
Conheceu-a quando certo dia pediu um
acarajé. Mãe Conceição perguntou se queria com ou sem pimenta. Querendo ser
engraçadinho, respondeu:
- Bote como se fosse no seu acarajé...
Se “lenhou”, mãe Conceição adorava pimenta, e o Gringo comeu o acarajé
mais ardido de sua vida.
Mãe
Conceição, sua esposa, tinha seu tabuleiro no largo do Rio Vermelho, e seu
Terreiro no Curuzú.
O
Gringo era seu ajudante na vendagem, mas no terreiro só foi uma vez.
Mãe Conceição o pegou transando com
uma Filha de Santo.
Expulsou a danada debaixo de “porrada”, e ameaçou cortar
“os documentos” do gringo, enquanto dormisse se ele voltasse a “por os pés” no Terreiro.
Certa feita o Gringo chegou
a um bar acompanhado de duas garotas de programa:
- Uma
Coca-Cola!
O
“barman” ao ver três adultos, perguntou:
- Família?
O gringo, que ainda se enrolava com a língua:
-
Non, tudo puta! Tudo puta!
Um vizinho do Gringo
instalou um ar condicionado, e o gringo não conseguia dormir, devido ao barulho
que fazia. Na 1º reunião de condomínio, expôs suas queixas, e descobriu que
muitos outros também estavam sendo incomodados.
O
ar condicionado foi tirado, ou trocado, e o barulho acabou. Logo, queixa-se o Gringo a um dos incomodados:
-Agora
não consigo dormir, pois já tinha me acostumado com o barulho. Estou sentindo
falta do barulho!
O
Gringo estava perfeitamente integrado ao modo de ser, crenças e culinária
baianas. No largo da
Mariquita, no Rio Vermelho onde morava, rara era a noite que não parava no
restaurante e padaria do Pepe para comer caruru, sarapatel, moqueca de peixe,
sempre acompanhadas por várias garrafas de cerveja. O gringo bebia pra caramba!
Certa feita o Gringo estava sem dinheiro e prometeu ao Senhor do Bonfim, Santo
de maior devoção de Salvador, que daria cinco voltas de joelhos em torno da
colina sagrada se ganhasse algum. Inspirado nas cunhadas, segundo ele, jogou na cobra, e ganhou pequena fortuna.
Ao
chegar ao sopé da colina viu que a tarefa não era fácil. O que fazer? Agora
estava em débito com o Santo. Dever ao Santo é pior que dever ao mais miserável
dos agiotas.Da mesma forma que ele deu,
ele tira.
Resolveu
o problema: Chamou um Táxi, ajoelhou-se no banco de trás e mandou o motorista
dar as cinco voltas prometidas, enquanto rezava contritamente, agradecendo. Enganou o Santo e
cumpriu a promessa.
Promessa é
dívida!
Salvador, 26 de Dezembro de 2011.
Sávio
Drummond.
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