Fui médico em um posto de saúde na Baixa do Bonfim, e de lá se via a colina sagrada e a Igreja no alto. Às sextas-feiras, pelo menos 80% dos pacientes vestiam-se de branco. Sexta-feira é o dia de branco, a cor de Oxalá.
Oxalá é o maior dos Orixás (Ori = Cabeça + Xá = Santo ). Dizem que na Bahia, existem dezesseis Oxalás, sendo que os mais conhecidos são Oxalufã, o Oxalá velho e Oxoguiã, o oxalá moço. Seus adeptos vestem-se de branco e usam colares com contas de vidro branco. Oxalá é o único Orixá branco (sarará), das divindades africanas.
O Capitão de Mar e Guerra o português Theodózio Rodrigues de Farias, durante uma tempestade, prometeu que se sobrevivesse, traria de Portugal uma imagem do santo de sua devoção.
Em 18 de Abril de 1745, uma réplica de Nosso Senhor do Bonfim existente em Setúbal,, terra do capitão, foi trazida para o Brasil e colocada na Igreja de Nossa Senhora da Penha. Em 1754 a imagem foi transferida para a Igreja construída no alto da colina.
A lavagem da Igreja começou a ser feita em 1773, quando a Irmandade dos Devotos Leigos, obrigou os escravos a lavarem seu interior, com a permissão do pároco, no 2 º Domingo de Janeiro. Algumas baianas de candomblé começaram a “dar Santo” dentro da Igreja, tendo sido então proibida a lavagem do seu interior. As baianas passaram então a lavar as escadarias e o adro do templo, que passou a ficar trancado neste dia, com água e perfume, chamada de Água de Cheiro.
A Medida do Bonfim trata-se de uma fita, com duas marcações, geralmente estrelas, que corresponde ao tamanho da imagem, daí chamar-se Medida.
Ao contrário do que se pensa Senhor do Bonfim, não é o padroeiro dos baianos. O padroeiro é São Francisco Xavier, por ter livrado os baianos de uma epidemia de Febre Amarela em Janeiro de 1686.
A procissão começa na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, construída no local da 1ª Igreja do Brasil, feita por Caramuru, entre 1509 a 1528, para a Índia Paraguaçu, sua mulher, convertida ao catolicismo. Era feita de sopapo e telhado de piaçaba, chamada de a Sé de Palha.
Ao longo do percurso de 8 km, barracas vendem cerveja, cachaça, churrasco, tira-gosto de toda espécie. Jegues enfeitados puxando carroças e mais recentemente com cartazes criticando o governo ou satirizando os políticos em geral, e muito samba de roda, completam o lado profano da festa, sempre aproveitado como “vitrine “ pelos políticos, acompanhados de assessores e “puxa-sacos”. Trabalhei também, em uma Clínica em que um dos donos era de Candomblé.A Clínica ia muito mal, com dívidas enormes, e não saía do “vermelho”.
Um Pai de Santo, chamado Zé do Mocotó, foi levado para fazer um “descarrego”.
Em pleno plantão tive a atenção despertada por exclamações; - ”Rei dos astros valei-nos! Rei dos Astros proteja esta casa! Rei dos Astros abre os caminhos! Era Zé do Mocotó, sarará como Oxalá, sacerdote do Orixá com uma ajudante, ambos vestidos à caráter, de branco, com batas de pano da costa e turbantes brancos. Enquanto Zé do Mocotó soltava baforadas de um enorme charuto, a baiana arrancava penas de uma galinha, percorrendo as enfermarias, com os doentes de olhos arregalados!
Senhor do Bonfim ou Oxalá é Santo milagroso.
Na Igreja do Bonfim, existe uma sala, repleta de cabeças, braços, pernas, pés, mãos, feitas em cera, que correspondem a partes do corpo que tinham doenças e foram curadas, após promessas ao santo, além de muletas, fotos de doentes em quadros, com nome e a descrição do milagre ocorrido e agradecimentos das graças alcançadas. Tem até um enorme alfinete, que coloquei na boca e ao apertar os dentes, tomou a forma de Bumerang e acabei engolindo, quando assistia a uma partida do Bahia.
Essê - ê - babá, Oxalá!
Salvador,
14 de Janeiro de 2012.
Sávio
Drummond.
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