quarta-feira, 17 de julho de 2013

UTI

Em 1854, durante a Guerra da Crimeia, na qual o Reino Unido, França e Turquia lutaram contra a Rússia, a Enfermeira Florence Nightingale, objetivando dar assistência aos feridos, criou a 1ª sala destinada à esta finalidade.
Com a 1ª (1914-1918), e a 2ª (1936-1945) Guerras Mundiais, as salas de suporte à vida, equiparam-se com a descoberta de novas medicações e novos equipamentos.
Incrível, mas a tecnologia médica evolui muito mais em períodos de conflitos.
A ultra-sonografia, só foi entregue à Comunidade Científica, 10 anos após sua descoberta, pois era “Segredo Militar”, utilizada na identificação e comunicação dos satélites espaciais, pois a URSS não “podia saber". Com Monitores Cardíacos, que vigiam a frequência e o ritmo cardíaco, disparando alarmes sonoros, conforme alterações da frequência e ritmo do coração, Oxímetros Digitais que informam “24 horas por dia”, a quantidade de O2, no sangue do paciente, sondas que medem a pressão dentro dos vasos e coração, aparelhos que fazem a medida de O2, CO2 e eletrólitos, permitindo suas correções, medida da Pressão Venosa Central (P.V.C.), indispensável para o tratamento da Síndrome do Choque, muitos doentes conseguiram “enganar” a morte e viver por mais tempo.
Muitos corações, devido ao uso de Marcas-Passos, continuam a bater em tórax de indivíduos mortos.  Substâncias que, se injetadas em tempo hábil em Coronárias no Infarto Agudo do Miocárdio, Carótidas nos Acidentes Vasculares Cerebrais (A.V.Cs. / Derrames), Artérias Pulmonares nos Tromboembolismos Pulmonares, Artérias Mesentéricas em Infartos Intestinais,desfazem coágulos, e muitos indivíduos seguramente sobrevivem, em situações limites, que antigamente os matariam. 
A assistência intensiva a pacientes nestas salas internados, deu origem a novas especializações como o Médico Intensivista, a Enfermeira Intensivista e o Fisioterapeuta  Geral e Respiratório, para evitar lesões de Traqueia e em doentes entubados e Escaras de Decúbito e Pneumonia de Decúbito naqueles acamados por muito tempo.Que ironia, e ainda se morre de Apendicite, Diarreia, Desidratação, Tuberculose, de parto e todas as doenças relacionadas à miséria.
Até a Bíblica Lepra, está voltando com “toda força”, na Amazônia.
Na U.T.I. do H.G.V. (Hospital Getúlio Vargas), o Pronto Socorro, quando estudante, vivi situações que gostaria de esquecer.
Um professor nosso, Anestesiologista, era chefe da U.T.I.
 Embora nunca tivesse sido interno desta Unidade, costumava visitá-la com frequência, não só para aprender alguma coisa, como acompanhando os doentes que atendia na Emergência, e a ela os encaminhava.
Certa feita, levei um doente em Coma, vítima de acidente automobilístico.
Após minucioso exame, o Mestre reconheceu que o doente precisava de U.T.I.  e assistência respiratória, pois o tínhamos entubado na sala de Emergência, e a ventilação pulmonar, mantida manualmente.
Após perguntar ao residente (estava atendendo juntamente conosco na sala de Emergência), quem não “tinha mais jeito”, e que estava ocupando um respirador,examinou o prontuário e minuciosamente o doente, e quando os reflexos mais profundos, como o Corneal  já não mais existiam, fazia aquilo que todos nós queríamos fazer, mas que não tínhamos coragem: Desligava o Respirador!
Depois, após breve silêncio, quando parecia que rezava, mandava subir mais dois, pois iria desligar mais dois outros aparelhos, pois dois moribundos, estavam ocupando respiradores que poderiam salvar outros infelizes que tinham chance de viver.
Graças a maus políticos e más políticas, o Mestre se investia de Deus, decidindo quem viveria e morreria.
Será que a situação mudou?                                                                                                                                   Salvador, 01 de Maio de 2012
                                                                                                                                             Sávio Drummond.

Nota: O conto escrito em 2012, refere a situações ocorridas na década de 1970.

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