Como disse Erasmo Carlos em certa canção;
“Escrevo-te estas más traçadas linhas meu amor,
Por que a saudade veio visitar meu coração”...
Todos nós já escrevemos e recebemos algumas cartas. Mas, só lembramos aquelas que nos davam notícia ruim. Ao contrário das recordações, que por um mecanismo de defesa, ficam apenas as boas, e as más são mandadas para o porão do inconsciente, só lembramos as cartas que nos deram noticias ruins.
Quando o Príncipe romeno Vlade, cavaleiro da ordem do Dragão (Dracul),
ao participar das lutas nas chamadas Cruzadas (1078-1303), guerras dos europeus para libertar Jerusalém, então em poder dos mouros (árabes islâmicos), sua princesa Mina recebe uma carta, provavelmente enviada pelos inimigos, que lhe informa a morte de seu amado. Desesperada pula para a morte, afogando-se no rio que fica na base do castelo. Esse rio passou a chamar-se Rio Argesh, que em romeno quer dizer Rio Princesa.
Alucinado Vlade Dracul, tornou-se mais sanguinário e passou a empalar vivos seus prisioneiros, assustando seus inimigos com sua ferocidade.
Vlade após a morte torna-se Drácula, personagem lendário, conhecido por alimentar-se de sangue humano.
Cartas Portuguesas enviaram as juras de amor da Sóror Mariana Alcoforado (1640 - 1723) ao seu amado o Oficial francês Noël Bouton de Chamilly.
Uma série de cartas deixou o genial compositor alemão Ludwig Von Beethoven (1770-1827), para as suas oito amadas. Até hoje não se sabe a qual delas denominou de “Minha Amada Imortal”. Acredita-se que foi para Theresa Malfatti, pois na época em que foi escrita, estava namorando-a.
O polonês Frédéric Chopin reuniu as cartas enviadas a sua amada Maria Vodinska, que as mandou de volta, e em 1812 fez um embrulho que intitulou Moja Bieda - Minha Desgraça.
D. Pedro I ao receber as cartas de seu pai D. João VI que pedia que retornasse a Portugal, deu o Grito do Ipiranga . D. Pedro I tinha 22 anos, e estava, assim como toda sua comitiva, montado em mulas, que devido as suas resistências, eram utilizadas para viagens longas e não em garbosos corcéis como os quê o pintor Pedro Américo imortalizou no quadro que se encontra no museu do Ipiranga, em 7 de Setembro de 1822, tornou-se proclamador da Independência.
Segundo consta, ele e toda sua comitiva estavam de pirirí (diarréia), devido as péssimas condições de higiene das refeições feitas à beira da estrada. O filósofo tcheco Franz Kafka (1883-1924) em cartas para sua amada, deixou para a história a beleza de seu romance Cartas para Milena.
Nas cartas Napoleão Bonaparte pedia a sua 1º esposa Josefina, que não se banhasse, quando de seu regresso. Como naquela época uma carta saída da Rússia, demorava mais de 10 dias para chegar a Paris, Napoleão gostava de mulher fedorenta. Era um fetiche.
No livro O Primo Basílio, de1878, Eça de Queiroz (1845-1900), a empregada Juliana, ao pegar uma carta de sua patroa Luísa ao seu amante Basílio, chantageia-a, porem não aproveita, pois morre no final.
A correspondência entre Rainer Maria Rilke (1875 -1926), um dos maiores poetas alemão, e um jovem, seu admirador, que lhe pergunta ao enviar-lhe suas poesias, se deveria dedicar-se a elas ou a carreira militar, como queriam seus pais. Rainer lhe respondeu; “Na mais anódina das horas, faça essa pergunta a você mesmo. Se tiveres como resposta um rotundo não, a ela se entregue”, originou o livro Cartas a um Jovem Poeta.
As cartas levam não somente palavras. Elas carregam emoções.
“E, para terminar amor, assinarei, do sempre, sempre teu “...
Salvador, 12 de Outubro de 2011.
Sávio Drummond.