segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O BAIXINHO

Tive um colega na Faculdade, que por ser de baixa estatura, chamava-o de “Baixinho”, quando sempre me respondia; “Baixinho é seu salário”. 
Sempre bem humorado,  inúmeras vezes surpreendeu-me com suas “tiradas”:
- Baixinho, estou preocupado pois estou perdendo os cabelos.
-Também estava com esse problema, mas o resolvi.
- Diga-me o que você fez. Enquanto ainda tenho cabelos!
- Depois que arrumei uma caixinha, comecei a guardá-los. Caiu, guardei! Nunca mais perdi nenhum.
Espírita, mora com o médium Divaldo Franco, e é “Um Tio”, no interessante sistema de creche-escola, que Divaldo criou.
Os meninos são criados e educados por um“ Tio”, as meninas por uma“ Tia”.
O convívio, “do dia a dia” é feito em comum, e as refeições na chamada Casa Grande são anunciadas por um sino.
Daí o bem-humorado “Baixinho” dizer que fora das refeições, poder ser encontrado na Senzala, e me deu seu telefone, que nunca atendeu, mas deu!
A atual creche-escola, já foi orfanato, tendo Divaldo criado centenas de crianças.
Aos poucos descobriu que as crianças que adotava tinham pais vivos. Eram “órfãos sociais”. 
O orfanato da Mansão do Caminho deixou de ser orfanato, e passou a ser creche, escola, padaria e tipografia.
Nelas os habitantes do fim de linha de Pau da Lima e adjacências, aprendem uma profissão. Tenho certeza que a escolarização, as boas companhias dos frequentadores da Mansão, e o aprendizado de um ofício, afastaram inúmeros jovens das drogas e da marginalidade.
Certa feita, quando dávamos plantão em um Posto de Saúde no subúrbio, ajudei-o na retirada de um osso de galinha que um rapaz engolira. 
A “bendita” estrutura óssea do esqueleto do galináceo (falar difícil às vezes, nos faz sentir importante), percorreu todo o intestino e próximo ao anus “resolveu” atravessar e prender-se nas paredes do reto. O "Baixinho" tentava com uma pinça reta, “pescar “o corpo estranho.
- Aí Doutor, aí mesmo, logo na entrada! 
- Pensei que fosse saída, enquanto mostrava o osso ao rapaz, que o guardou como a um troféu.
Um dia levei-o ao bairro de Monte Serrat, próximo a Ribeira, na Cidade Baixa, para ver o tio de minha esposa que estava com câncer. De repente começou a bocejar o que não seria nenhuma novidade, se eu também não começasse a sentir um sono incontrolável. 
Com muita dificuldade chegamos até A Mansão, onde um médium, através de um passe nos repôs as energias.
Tratava-se do fenômeno chamado de Vampirismo. Nele, espíritos protetores do enfermo retiram energia das pessoas susceptíveis e doa aos doentes, em uma verdadeira transfusão, mecanismo que ocorre no passe Espírita.
Nele espíritos protetores do Médium doam a ele, energia, senão só conseguiria dar passe uma vez.
Descobri esse fenômeno quando atendia alguns doentes, que após a consulta sentiam-se bem melhor, e eu chegava em casa “ me arrastando”, tomava uma vitamina e dormia profundamente.
Durante o sono essas energias eram repostas, pelos meus guardiões, e acordava bem.
Passei a identificá-los e atendê-los por último, sob a justificativa de que eram casos especiais e que necessitavam de uma atenção particular.
Certa feita trouxe vários rapazes, da Mansão, pra almoçarem aqui em casa. Minha esposa esmerou-se e fez uma “senhora” feijoada.
Enquanto comíamos, um deles reclamou com seu companheiro do lado:
- Tá magra! Tá magra!
Queria dizer que tinha pouco toucinho... 

Excelente orador,  substituia (ele e outros, como o nosso também colega, Peixinho) Divaldo nas palestras. Certa feita, em uma palestra, narrou para um auditório repleto, um sonho que minha esposa teve e lhe contou: “Uma amiga sonhou que estava em um grande corredor. Ao longe um quadro na parede. Era um retrato de Jesus, com olhos piedosos.
Ela aproveitou para pedir a Jesus que a fizesse ganhar na loteria. Que ganhasse sozinha, pois estava cheia de dívidas.
A terna expressão foi substituída por uma “carranca” de ódio:
- Aqui pra você! E deu-lhe uma “senhora banana”. Como você tem coragem de me pedir dinheiro!
Seguranças botem esta mulher pra fora! E dois enormes Pit-Bulls começaram a correr atrás dela.
Por não saber por onde entrou, não sabia por onde sair. Acordou pedindo Socorro”.
A mulher foi pedir dinheiro logo a Jesus!

Conheci pessoas que enquanto você está falando, não conseguem manter os olhos abertos, e “caem no sono”. O “Baixinho”, inaugurou uma nova modalidade; Começa a dormir enquanto fala. Incrível, foi a 1º vez que vi isso!Costumava deixar muitos desenhos na cabeceira de sua cama, quando saía do plantão, pois estava sempre dormindo, pois dormir pra ele nunca foi problema.
Devia entrar para “Os Dorminhocos Anônimos”.

Salvador, 01 de Dezembro de 2011.                                                                                                                                                                 Sávio Drummond.

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